Inditex, proprietária da Zara, exige transparência a certificador de algodão

Depois de uma investigação a produtores brasileiros de algodão, gigante espanhola pede esclarecimentos a Better Cotton, que se escusa a responder antes de conhecer denúncia e trabalho no terreno.

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Consumidores junto a uma loja da Zara, uma das marcas da Inditex REUTERS/Gleb Garanich
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A Inditex, proprietária da Zara, exigiu mais transparência de um certificador que examina parte do algodão usado pela gigante espanhola da moda, após uma investigação que encontrou provas de negligência por parte de dois produtores brasileiros de algodão certificado.

A Inditex enviou uma carta datada de 8 de Abril ao CEO da Better Cotton, Alan McClay, pedindo esclarecimentos sobre o processo de certificação e sobre o progresso das práticas de rastreabilidade, depois de a Earthsight, uma organização não-governamental, ter informado o retalhista de que os produtores com certificações Better Cotton estavam envolvidos em tomadas de poses ilegais de terras, desflorestação ilegal e actos violentos contra as comunidades locais, de acordo com uma cópia da carta vista pela Reuters.

A Inditex declarou que esperou mais de seis meses pelos resultados de uma investigação interna da Better Cotton, cuja conclusão estava prevista para o final de Março e que começou em Agosto passado, segundo o mesmo documento.

As alegações "representam uma grave violação da confiança depositada no processo de certificação da Better Cotton tanto pelo nosso grupo como pelos nossos fornecedores de produtos", afirmou a Inditex na carta. "A confiança que depositamos em tais processos desenvolvidos por organizações independentes, como a vossa, é fundamental para a nossa estratégia de controlo da cadeia de abastecimento".

O conteúdo da missiva foi publicado pelo Modaes, um site de notícias do sector da moda. À Reuters, a Inditex confirmou que tinha enviado a carta.

A Inditex não compra algodão directamente, mas os seus fornecedores são auditados por certificadores como a Better Cotton para garantir boas práticas na obtenção das suas matérias-primas.

A Better Cotton, com sede em Genebra, um dos maiores certificadores mundiais de práticas sustentáveis na indústria do algodão, disse à Reuters que forneceria mais informações nas próximas semanas, assim que tivesse analisado os resultados da auditoria que encomendou.

A Better Cotton afirmou ainda que não publicaria as suas conclusões enquanto não tivesse visto o relatório completo da Earthsight, que deveria ser publicado na quinta-feira.

A Better Cotton afirmou que o seu parceiro estratégico no Brasil, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, estava a rever elementos das suas normas para as alinhar com as da Better Cotton.

Criada por empresas e várias organizações sem fins lucrativos, incluindo o World Wildlife Fund, a Better Cotton afirma que o seu objectivo é apoiar práticas melhoradas em áreas como a gestão da água e do solo e promover melhores padrões de trabalho.

Os retalhistas de moda enfrentam pressões crescentes dos consumidores e dos grupos de activistas para venderem produtos com menos impacto ambiental e fabricados em condições de trabalho seguras. A Inditex é detentora de marcas como a Zara, Massimo Dutty, Pull & Bear, Bershka, Stradivarius, Oysho e Zara Home.

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