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Uma viagem pela era dourada dos cinemas (extintos) de Lisboa
Quem se recorda do Monumental, na Praça Duque de Saldanha, demolido em 1984? Ou do antigo Roxy? As fotografias da Fundação Gulbenkian convidam a uma viagem pelos cinemas extintos de Lisboa.
Durante o século XX, foram inúmeros os cinemas que nasceram no centro e arredores de Lisboa. Mas nem todos resistiram ao teste do tempo. Alguns foram demolidos juntamente com os edifícios que lhes serviam de casa, outros foram desmantelados e os seus espaços reconvertidos. Actualmente, apenas uma parte dos que existiam até ao final do século XX se mantêm em actividade. As fotografias do arquivo da Fundação Calouste Gulbenkian dos antigos cinemas da capital, que foram recentemente compiladas e publicadas num artigo no site da própria Fundação, permitem um raro vislumbre sobre o interior dos espaços que o tempo apagou e que a fotografia guardou.
Há quem ainda se recorde do imponente Cine-teatro Monumental, na Praça de Duque de Saldanha, que funcionou entre 1951 e 1984. O edifício de quatro pisos, projectado originalmente pelo arquitecto Rodrigues de Lima (1909-1979), tinha características que o prendiam, esteticamente, à época do Estado Novo, e exibia traços do modernismo português da altura. As suas salas albergavam, cada uma, mais de mil espectadores: a de cinema chegava quase aos dois mil lugares e a de teatro dispunha de pouco mais de mil. A sua demolição, em 1984, deu lugar a uma nova construção com o mesmo nome, onde funcionaram um centro comercial, os escritórios do Banco BPI e quatro salas de cinema.
Considerada uma das mais importantes obras da arquitectura modernista em Portugal, o cine-teatro Éden nasceu em 1938, na Praça dos Restauradores, no centro de Lisboa. Tinha uma característica que o tornava polémico, à época, que era a sua "fachada cega", sem janelas. A sala de cinema tinha lotação de 1554 lugares. O interior do edifício foi demolido no início dos anos 1990, mas a fachada foi mantida. A nova construção deu lugar a um hotel.
O cinema Lys, com lugar para 630 espectadores, inaugurou a 11 de Dezembro de 1930, na Avenida Almirante Reis. A 10 de Abril de 1973 encerrou para remodelação e abriu com o nome Roxy, a 26 de Junho do mesmo ano, com 531 lugares. Actualmente é um prédio comercial, onde chegou a funcionar uma sapataria, que se distingue dos restantes pela vistosa fachada abobadada que destoa na Avenida.
O primeiro edifício que albergou o Cinema Europa tinha capacidade para 616 espectadores e inaugurou em 1931, na Rua Francisco Metrass, na zona do Campo de Ourique, em Lisboa. A obra desenhada por Raúl Martins, que fundia elementos de art déco e do estilo modernista, foi demolida em 1957 e, no ano seguinte, deu seu lugar ao edifício que se mantém de pé até hoje, transformado em habitação, biblioteca, ludoteca e auditório, Biblioteca/Espaço Cultural Cinema Europa.
O cinema Alvalade, na Avenida de Roma número 100, nasceu em 1953, em pleno bairro de Alvalade, com capacidade para quase 1500 espectadores. Em 1985, o cinema deixou de funcionar e o edifício chegou a ser arrendado à IURD. Anos mais tarde, em 2003, o edifício foi demolido e no seu lugar nasceu o prédio City Classic Alvalade, onde ainda se exibem filmes nas quatro salas de cinema que foram asseguradas. O mural da autoria de Estrela Faria mantém-se preservado, junto à entrada.
No Largo de Santos, em Lisboa, o cinema Cinearte, projectado pelo arquitecto Raúl Rodrigues Lima (1909-1979), inaugurou em 1949. No interior do edifício de linhas modernistas, o cinema funcionou até 1981 e é, hoje, um Imóvel de Interesse Público. Em 1990, nove anos após o encerramento e já na posse da Câmara Municipal de Lisboa, o espaço foi cedido à companhia de teatro A Barraca, que aí mantém actividade.