Obesidade infantil: um fenómeno com dimensões epidémicas

As desigualdades socioeconómicas e culturais também podem contribuir para o problema. As crianças europeias têm vindo a seguir uma dieta hipercalórica constituída por refeições pouco equilibradas.

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De uma forma geral, a dieta e a atividade física acabam por estar relacionadas com a obesidade Marisa Cardoso/Arquivo
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Ter excesso de peso na infância é um fator de risco para desenvolvimento de obesidade em adulto e para complicações como a diabetes e as doenças cardiovasculares. Além dos problemas de saúde, pode também levar a problemas emocionais e comportamentais, como baixa autoestima e nervosismo, devido ao choque com os valores culturais da estética e beleza que estão presentes desde a infância. Por estes motivos, e pela obesidade infantil ter-se tornado um problema com dimensões epidémicas, tornou-se necessário e prioritário aprofundar o estudo das suas causas e consequências.

Embora a genética tenha aqui um papel muito importante, hábitos de vida como falta de atividade física, dieta desequilibrada e problemas de sono podem ser fatores importantes para o desenvolvimento do excesso de peso infantil. As desigualdades socioeconómicas e culturais também podem contribuir para o problema. As crianças europeias, incluindo as portuguesas, têm vindo a seguir uma dieta hipercalórica constituída por refeições pouco equilibradas. Esse hábito piora à medida que as crianças se aproximam da adolescência, quando se tornam mais autónomas e têm mais acesso a fast food.

A atividade física infantil também é muitas vezes negligenciada, embora seja um fator importante para prevenir o excesso de peso em crianças e adolescentes. Por outro lado, os comportamentos sedentários são comuns em crianças e adolescentes, chegando a ocupar 60% do seu tempo útil, que é principalmente passado sentado em frente a ecrãs. Além disso, a ainda recente pandemia por covid-19 agravou a situação, aumentando o tempo passado em casa, e por consequência, potenciando o aumento dos comportamentos sedentários. O “embaraço do exercício” é um outro fenómeno que, ocorrendo principalmente entre as minorias, faz com que a atividade física diminua durante a adolescência, especialmente entre as raparigas. Por esse motivo, estratégias para combater o excesso de peso em crianças devem incluir a intensificação da prática física e a remoção de dispositivos como ecrãs dos seus quartos.

Num estudo realizado pelo Centro de Genética e Nutrição Pediátrica Egas Moniz, entre 2010 e 2013, em escolas da região metropolitana de Lisboa, e envolvendo aproximadamente 400 crianças com 9 anos, analisou-se a relação entre os hábitos de vida e a saúde metabólica, focando nos fatores de risco para a diabetes e as doenças cardiovasculares. Embora Portugal tenha apresentado descida da prevalência do excesso de peso infantil entre 2008 e 2019, provavelmente devido à implementação de legislação fiscal sobre o consumo do açúcar e de políticas de implementação da atividade física em espaços urbanos, os resultados deste estudo mostraram que Portugal apresentava ainda uma das maiores taxas de obesidade da Europa, com 39% das crianças avaliadas a apresentar excesso de peso e 29% com níveis elevados de gordura corporal.

De uma forma geral, a dieta e a atividade física acabam por estar relacionadas com a obesidade, o excesso de gordura corporal e com outros fatores de risco para diabetes e doenças cardiovasculares. Tendo em conta que estes mesmos fatores são considerados modificáveis, especialmente durante a infância, a dieta e o exercício físico poderão ser importantes ferramentas no combate à obesidade e aos efeitos adversos na saúde.

A obesidade infantil tornou-se um desafio significativo porque não só afeta a saúde a nível físico, mas também o bem-estar social e emocional das crianças. Posto isto, torna-se necessário promover hábitos alimentares saudáveis, atividade física regular e um ambiente propício a opções saudáveis. Os educadores e profissionais de saúde devem auxiliar as crianças a criar costumes para um crescimento saudável dos jovens para reduzir o impacto que a obesidade infantil pode vir a gerar a longo prazo.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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