Israel cerca mais dois hospitais na Faixa de Gaza

Vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, diz que não exclui “consequências” para Israel em caso de operação militar em Rafah.

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Palestinianos saíram de Khan Younis em direcção a Rafah na sequência de ataques do Exército israelita deste domingo MOHAMMED SABER/EPA
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As forças israelitas cercaram neste domingo mais dois hospitais na Faixa de Gaza, desta vez no Sul, enquanto o Exército fala em ataques a infra-estruturas terroristas e diz que, na Cidade de Gaza, 480 dos detidos no Hospital Al-Shifa (entre cerca de 800, segundo a Al-Jazeera) eram membros do Hamas ou da Jihad Islâmica.

O Crescente Vermelho Palestiniano diz que no Hospital Al-Amal, em Khan Younis, havia equipas médicas paralisadas e exigências das forças israelitas para que quem estava dentro das unidades de saúde saísse, sem roupa, do local.

O hospital estava cercado por forças israelitas, disse o Crescente Vermelho, descrevendo ainda o trabalho de bulldozers militares em seu redor. Todas as nossas equipas estão em perigo extremo e totalmente imobilizadas”, dizia organização em comunicado, citado pela agência Reuters.

Foram disparadas bombas de fumo para que todas as pessoas se retirassem do local, disse ainda a organização, acrescentando que, ao fim do dia, todas as pessoas capazes de se movimentar tinham saído, mantendo-se no hospital pessoal médico e de enfermagem, nove doentes e dez familiares, assim como uma família com crianças que têm deficiências. “Todas estas pessoas têm de ser retiradas com segurança”, disse a organização, citada pela Al-Jazeera.

Perto de outra unidade de saúde também em Khan Younis, o hospital Nasser — onde já não havia doentes, mas onde centenas de palestinianos deslocados procuraram refúgio — havia relatos de disparos e explosões, segundo a Al-Jazeera.

O Exército israelita confirmou que estava a levar a cabo uma nova operação em Khan Younis, atingindo alvos com bombardeamentos aéreos e combates no terreno. As Forças Armadas disseram ter “informações precisas” sobre a utilização de infra-estrutura civil pelo Hamas na zona de Al-Amal, cita o Times of Israel.

E em relação ao Norte, o chefe da UNRWA (a agência da ONU que apoia refugiados palestinianos), Philippe Lazzarini, disse ter recebido indicações de Israel de que não permitiria mais passagem de ajuda para o Norte de Gaza, onde os níveis de fome são já críticos.

“Isto é um escândalo e torna intencional a obstrução de ajuda que salva vidas durante uma fome provocada por acção humana”, escreveu na rede social X. “É preciso que estas restrições sejam levantadas.”

Na véspera, o secretário-geral da ONU, António Guterres, esteve do lado egípcio de Rafah, mostrando a fila de camiões que não passam a fronteira para a Faixa de Gaza e fazendo declarações duras para com o Governo de Israel. Este respondeu acusando-o de “anti-semitismo” e de “encorajar” o terrorismo.

Entretanto, Israel continua a manter que irá levar a cabo uma operação em Rafah, na fronteira com o Egipto, e os Estados Unidos continuam a avisar para consequências, desta vez pela voz da vice-presidente Kamala Harris numa entrevista com a estação de televisão ABC.

“Temos sido muito claros, em várias conversas e de todos os modos possíveis que qualquer grande operação militar em Rafah seria um grande erro”, disse Harris. “Deixem-me dizer uma coisa: eu estudei os mapas. Não há sítio para estas pessoas irem”, disse a vice-presidente, referindo-se à população deslocada que está em Rafah.

“Vamos ver uma coisa de cada vez, mas temos sido muito claros em termos do que, na nossa perspectiva, devia ou não acontecer”, disse Harris. Questionada sobre se excluiria consequências caso Israel avançasse, Harris respondeu: “Não excluo nada.”

Netanyahu tem defendido uma operação em Rafah dizendo que sem esta não há hipótese de cumprir o objectivo de derrotar o Hamas.

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