Raimundo diz que valorização de algumas carreiras pode ser feita sem rectificativo

Líder do PCP acusa o PS de ter um “peso na consciência” porque o excedente orçamental foi conseguido “à custa dos serviços públicos” e das carreiras médicas, de professores e de oficiais de justiça

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Paulo Raimundo, líder do PCP LUSA/FILIPE AMORIM
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O secretário-geral do PCP defendeu esta sexta-feira que existem condições para a valorização salarial de algumas carreiras sem recorrer a um orçamento rectificativo e indicou que os comunistas não se oporão à concretização de "justas reivindicações".

"Nós achamos que não há nenhuma necessidade de um orçamento rectificativo", afirmou Paulo Raimundo à margem de uma visita à Futurália, feira de educação, formação e empregabilidade, em Lisboa.

Questionado sobre como é que os comunistas votariam um eventual orçamento rectificativo para valorizar alguns grupos profissionais da administração pública, como professores, forças de segurança, profissionais de saúde ou oficiais de justiça, Paulo Raimundo garantiu que não é pelo PCP "que nenhuma dessas justas reivindicações deixa de andar para a frente". "Não há nenhuma dúvida sobre isso", salientou.

Voltando a acusar o PS de mostrar um "grande peso na consciência" ao manifestar disponibilidade para viabilizar um orçamento rectificativo neste sentido, Raimundo questionou porque é que o Governo cessante não avançou com estas medidas, e defendeu que "é a contradição que o Partido Socialista vai ter que carregar às costas".

O líder comunista considerou que isso não foi feito antes "por opção" e que o excedente orçamental foi conseguido "à custa dos serviços públicos, de não fixar médicos, de não reconhecer o tempo de serviço dos professores, à custa dos salários dos funcionários judiciais".

Apontando que o PS tinha "tudo na mão", o comunista defendeu que "só não fez porque não quis". "Por isso é que eu acho que é um peso de consciência", afirmou, indicando que o PCP não alimenta "fugas para a frente e muito menos peso de consciência de outros".

Raimundo defendeu também que "há muitos problemas para rectificar" e desafiou o próximo Governo liderado por Luís Montenegro, primeiro-ministro indigitado, a incluir no orçamento rectificativo o fim dos "benefícios fiscais de 1.600 milhões de euros que estão a ser atribuídos desde Janeiro a esta parte aos grandes grupos económicos" ou da "transferência de metade do orçamento do Serviço Nacional de Saúde para o negócio privado da doença".

O secretário-geral do PCP afirmou também que Luís Montenegro "tem que fazer a leitura do que se passou nas eleições". "Se o primeiro-ministro indigitado considera que aquilo que se passou foi um apoio ao seu programa, está muito enganado", defendeu, considerando que "é bom que não se confunda a exigência de mudança que se expressou no acto eleitoral com algum apoio a medidas que rebentarão nas mãos sempre dos mesmos".

Raimundo reiterou que não tem "expectativa nenhuma sobre o novo governo, independentemente da sua composição". "Conhecemos o programa, conhecemos os objectivos que têm, tudo indica que todas as preocupações que foram manifestadas, inclusive ontem naquela manifestação do ensino superior, se vão adensar, que torna a situação ainda mais difícil. Mas o facto de ela ser mais difícil não quer dizer que seja impossível de superar", defendeu.

Paulo Raimundo antecipou que o novo Governo trará "políticas que são erradas e que não vão corresponder aos problemas da juventude", que "não encontra no seu país condições para a sua realização pessoal e profissional" e defendeu que essa questão "só se resolve" com o aumento geral de salários.

Quanto ao ensino superior, Paulo Raimundo saudou a "grandiosa manifestação dos estudantes" na quinta-feira e defendeu que transmitiram "preocupações justíssimas", como o "fim das propinas, a resolução de um problema gravíssimo de hoje que é o alojamento estudantil", ou "o reforço do valor das bolsas".

"É preciso dar resposta e há condições para o fazer", afirmou.

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