Poiares Maduro não vê razão para executivo minoritário corresponder a instabilidade

O professor e ex-ministro lembra que há uma “enorme tradição na Europa de governos minoritários” e defende a importância de mudar a cultura política “puramente bipolar”.

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Maduro nega qualquer contacto para integrar o novo executivo liderado por Luís Montenegro Nuno Ferreira Santos
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O professor e ex-ministro Miguel Poiares Maduro defende que um governo minoritário não tem de corresponder a uma situação de instabilidade política, e nega qualquer contacto para integrar o novo executivo liderado por Luís Montenegro.

As declarações foram proferidas no final da cerimónia do doutoramento honoris causa do economista e político José Silva Peneda na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real. O antigo ministro do Governo de Pedro Passos Coelho é também presidente do conselho geral da UTAD.

"Não há razão nenhuma para um governo minoritário corresponder, como muitos temem, a uma situação de instabilidade política", explicou Poiares Maduro no final da cerimónia, em resposta a questões de jornalistas. "Há uma enorme tradição na Europa de governos minoritários, sem que isso implique instabilidade política", realçou.

Segundo Poiares Maduro, "o que é necessário para que esse governo minoritário não se traduza numa instabilidade política, que seria negativa para o país, é uma cultura política em que todos os atores políticos, incluindo todos os partidos políticos, quem estiver no Governo e quem estiver na oposição, seja responsável politicamente e actue no parlamento, medida a medida por exemplo, para discutir e tentando reconciliar posições políticas diferentes na procura de políticas que sejam benéficas para todo o país".

Miguel Poiares Maduro também foi questionado pelos jornalistas sobre o próximo governo da Aliança Democrática (AD) e se foi alvo de algum contacto por parte de Luís Montenegro para integrar o novo executivo.

"Agradeço muito aos senhores jornalistas pensarem, falarem do meu nome para esse tipo de funções. Significa que provavelmente deixei uma boa memória para se lembrarem de mim, mas nem me contactaram, nem fazia sentido que eu fosse contactado, nem eu iria de alguma forma comentar sobre qualquer matéria desse tipo, seria totalmente inapropriado", afirmou Poiares Maduro. "Assumir funções de certo tipo depende de condições que muitas vezes são condições pessoais que as pessoas podem ou não podem ter. Neste momento da minha vida, essa questão não se coloca, mas seria inapropriado da minha parte estar a falar de algo para o qual não foi contactado."

Quanto a um acordo com o Chega, disse que é uma questão que o PSD e a AD já "esclareceram mais que claramente".

"Aquilo que se coloca é que, num contexto de um parlamento fragmentado politicamente e provavelmente, atendendo à forma como as democracias têm vindo a evoluir na Europa e no mundo, nós vamos ter crescentemente parlamentos fragmentados, o que isso exige é uma cultura política diferente", disse.

"Ou seja que os atores políticos não vejam a sua participação na política de uma forma puramente bipolar, entre quem está no Governo e quem está na oposição, mas sim de uma forma construtiva", defendeu.

A AD venceu as eleições de 10 de Março e o líder do PSD foi indigitado primeiro-ministro pelo Presidente da República. Luís Montenegro apresenta o seu Governo em 28 de março e a posse está prevista para 2 de Abril.

Sobre o honoris causa, Poiares Maduro disse ser um reconhecimento do que o antigo ministro do Governo de Cavaco Silva fez pela UTAD, enquanto presidente do conselho geral, mas acima de tudo um reconhecimento pelo que fez pelo país ao longo de toda a sua carreira.

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