Benfica não teve forças para 90 minutos na Champions feminina

As “encarnadas” mostraram que enquanto o corpo permitir têm nível para competirem com as poderosas francesas. Faltou algo mais, mas saírem “vivas” deste jogo frente ao Lyon já foi um mal menor.

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Benfica e Lyon em duelo no Estádio da Luz Reuters/Rodrigo Antunes
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Quarenta e cinco minutos de alto nível, com intensidade permanente e pressão individual a campo inteiro, mas outros 45 de agonia, com abismo físico praticamente desde o intervalo até ao apito final. Foi isto que se passou nesta terça-feira, na derrota do Benfica (2-1) frente ao Olympique Lyon, na primeira mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões feminina.

A equipa portuguesa mostrou que enquanto o corpo permitir tem nível técnico e táctico para competir com as poderosas francesas, mas a visível quebra física na segunda parte hipotecou a possibilidade de levar um resultado melhor para França.

Em todo o caso, saírem “vivas” da primeira mão já é um feito e tanto para jogadoras que não são, em teoria, deste campeonato – o campeonato em que jogam frente a uma equipa oito vezes campeã da Europa.

Boa primeira parte

Num Estádio da Luz com o primeiro anel bem composto (19.736 pessoas), o jogo foi desde o primeiro minuto pautado pela aposta de ambas as equipas em seguirem referências individuais, mesmo que com isso expusessem permanentemente as linhas defensivas.

Sem Jéssica Silva – motivo desconhecido –, o Benfica não mudou grande coisa no desenho europeu habitual, com um 3x5x2 de pressão muito alta. As laterais estiveram quase sempre bastante projectadas, o que deixava a linha defensiva exposta a jogadas de três contra três ou mesmo inferioridade numérica.

O plano do Benfica foi sempre tentar recuperar a bola em zonas adiantadas e resultou várias vezes – nomeadamente aos 43’, quando Andreia Faria se isolou numa recuperação de bola e marcou o 1-0.

As referências individuais, de regresso ao futebol em algumas equipas, foram uma constante entre Benfica e Lyon, algo que deu ao jogo, em muitos momentos, um perfil algo anárquico e “suicida” – o controlo do espaço era um preceito do qual ambas as equipas abdicavam, para que pudesse haver uma pressão agressiva à portadora da bola.

No lado do Benfica, este preceito era levado ainda mais ao limite pela central Ucheibe, cuja atracção pela bola, sempre focada no desarme, deixou o Benfica “coxo” várias vezes.

Até em momentos do jogo como lançamentos laterais – executados pelas centrais mais abertas e não pelas laterais – o Benfica se expôs um par de vezes, por espaço deixado vago pela executante do lançamento.

Mas a aparente anarquia não terá sido falta de conhecimento táctico. Pareceu ser até uma opção bastante clara de ambas as equipas, que sentiam que ao recuperarem bolas em zonas tão altas estavam perto do golo – e estavam, porque além das oportunidades perigosas (duas de cada lado) ainda houve quase uma mão-cheia de jogadas de ataque às quais só faltou último passe ou finalização.

Do lado do Benfica isso até já tinha sido dito por Filipa Patão, que, apesar de não relevar a estratégia sem bola, já tinha levantado o véu sobre as zonas de pressão, quando lembrou, na antevisão do jogo, que o Lyon já tinha sentido problemas frente a equipas que fizeram pressão alta.

Agonia permanente

O Lyon esteve na cara de Pauels mais do que uma vez, quase sempre pela zona de Ucheibe – ora com erros técnicos, ora com desposicionamento, ora com desatenções.

Até que aos 63’ acabou a resistência. O Lyon já tinha avisado várias vezes e acabou por chegar ao golo num lance algo consentido pela passividade portuguesa, mas, ainda assim, bem construído pelas francesas: jogada individual de Carpenter e cruzamento para finalização de Cascarino.

Individualmente, Kika ia espalhando pormenores técnicos de alto nível, mostrando estar alguns furos acima das demais – e um jogo com tanto espaço e marcações individuais é o ideal para uma jogadora capaz de ultrapassar adversárias em drible.

Mas até ela acabou por ser “engolida” pelo crescimento do Lyon na segunda parte, algo que até pareceu ser influenciado pela quebra física nas jogadoras “encarnadas”, cada vez mais atrasadas a chegar à zona da bola e com mais falhas técnicas comuns quando bate à porta o desgaste – mais ainda pela forma como vinha a jogar com e sem bola.

As oportunidades de golo do Lyon chegavam com frequência, quase sempre pelo lado esquerdo da defesa do Benfica, e Pauels ia salvando o que podia com boas defesas pelo chão.

Ainda houve um golo anulado ao Lyon por fora-de-jogo, mas era uma questão de minutos até algo pior acontecer ao Benfica. E isso chegou aos 80’, numa jogada individual de Horan a dar cruzamento para a cabeça de Dabritz – sempre pelo lado esquerdo da defesa do Benfica.

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