Zimbabwe enfrenta a fome com as colheitas ressequidas pelo El Niño

Insegurança alimentar no Zimbabwe foi agravada por seca induzida pelo fenómeno El Niño. Este padrão climático, que tem afectado muitos países da África Austral, deverá abrandar em Abril.

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Prevê-se que a colheita de milho no Zimbabwe diminua para metade neste ano, ou seja, para 1,1 milhões de toneladas Philimon Bulawayo/REUTERS
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Os habitantes da aldeia zimbabuense de Buhera juntam-se à porta de uma escola primária, à espera de serem chamados pelo nome para receberem sacos com cereais, ervilhas e óleo de cozinha. É uma ajuda que lhes salva a vida.

“Estamos gratos, mas a comida só será suficiente para um mês”, diz Mushaikwa, de 71 anos, uma mulher que vive com o marido, idoso, enquanto se afasta da escola com um saco de cereais. “As minhas colheitas estão murchas”, lamenta.

O Zimbabwe não consegue garantir a segurança alimentar da população desde 2000, quando o antigo presidente Robert Mugabe confiscou as explorações agrícolas detidas por habitantes brancos. Esta medida perturbou a produção agrícola e provocou uma queda acentuada dos rendimentos, deixando muitos zimbabuenses dependentes da ajuda alimentar para sobreviver.

O governo está a considerar a possibilidade de declarar estado de emergência, disse um ministro do Zimbabwe à Reuters.

A crise foi agravada por uma seca induzida pelo fenómeno El Niño, um padrão climático que tem afectado muitos países da África Austral. O governo calcula que 2,7 milhões de pessoas passarão fome em 2024, embora o número real possa ser ainda mais elevado.

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Habitantes recebem ajudas alimentares mensais na aldeia de Mumijo, no Zimbabwe REUTERS/PHILIMON BULAWAYO

Prevê-se que a colheita de milho no Zimbabwe diminua para metade neste ano, ou seja, para 1,1 milhões de toneladas. Em Buhera, Mary Takawira, de 47 anos, lamenta a sua colheita, que secou antes de amadurecer. “Já não me lembro do sabor (do milho). Este vai ser um ano difícil”, disse.

El Niño começa a abrandar em Abril

O El Niño é um fenómeno meteorológico natural associado a uma perturbação dos padrões dos ventos alísios, e que se traduz em temperaturas mais elevadas à superfície do oceano no Pacífico oriental e central.

Este padrão climático ocorre, em média, a cada dois a sete anos, dura normalmente nove a 12 meses e pode provocar fenómenos meteorológicos extremos, como ciclones tropicais, secas prolongadas e subsequentes incêndios florestais.

O El Niño em curso começou em meados do ano passado e, agora, deverá enfraquecer ao largo da costa do Peru em Abril, embora ainda possam ocorrer fortes chuvas.

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A ENFEN, a comissão peruana encarregada de estudar o padrão climático cíclico que aquece o oceano Pacífico, afirmou num relatório, na sexta-feira, que o fenómeno costeiro, sentido principalmente ao longo das costas do Equador e do norte do Peru, poderia continuar este mês e enfraquecer em Abril.

No entanto, o ENFEN manteve o alerta para o El Niño, uma vez que ainda pode trazer chuvas intensas para partes da costa e alterar os ecossistemas marinhos.

“A manutenção do alerta significa que o mar ainda está quente”, disse o biólogo Carlos Bocanegra à TV local. “Se o mar ainda está quente, isso significa que o El Niño ainda está em curso e a ameaça climática, incluindo a ameaça de chuvas, não pode ser descartada”.

Atingida por condições meteorológicas adversas, a produção do sector agrícola do Peru poderá ter registado, no ano passado, o maior declínio desde 1992, de acordo com o banco central do país sul-americano, que tem alertado repetidamente para o impacto na economia.

Do outro lado do continente, na Argentina, os agricultores beneficiaram de chuvas abundantes devido ao El Niño, depois de uma seca devastadora na época passada.

"Quando se conduz por aí, vê-se que muitas culturas murcharam", disse a directora nacional interina do Programa Alimentar Mundial, Christine Mendes, em Buhera, cerca de 220 km a sudeste da capital, Harare.

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