Abusos sexuais na Igreja: Grupo Vita recebeu 12 pedidos de reparação financeira

Em dez meses, o Grupo Vita foi contactado por 84 pessoas que reportaram situações sexualmente abusivas no contexto da Igreja Católica em Portugal.

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Grupo Vita já realizou 52 atendimentos e mais “estão agendados para breve” Manuel Roberto/Arquivo
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Em dez meses de funcionamento, o Grupo Vita, criado pela Igreja Católica para acompanhar vítimas de abuso sexual no contexto eclesial, foi “contactado por 84 pessoas que reportaram situações sexualmente abusivas no contexto da Igreja Católica em Portugal”, comunicou o grupo liderado pela psicóloga Rute Agulhas. Numa nota enviada no domingo, dá-se conta de que 12 pessoas “solicitam uma reparação financeira”.

Numa entrevista recente ao PÚBLICO-Renascença, a 7 de Março, Rute Agulhas revelou que o grupo tinha recebido 12 pedidos de reparação financeira e sido contactado por 83 pessoas. Cerca de um terço corresponde a pessoas que tinham contactado anteriormente a Comissão Independente.

Na mesma entrevista, a psicóloga adiantou que até àquele momento tinham recebido “apenas uma pessoa que agrediu sexualmente e que aceitou ajuda”. “É muito importante que a própria Igreja comece aqui a assumir, cada vez mais,​ um papel de pressão junto destas pessoas, para que aceitem um processo terapêutico”, considerou.

O grupo refere agora que, desde Maio do ano passado, realizou 52 atendimentos, sendo que haverá mais “agendados para breve”. Na sequência dos contactos estabelecidos, diversas pessoas “mantêm um processo de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico regular”, lê-se na nota, que anuncia que o segundo relatório de actividades do Grupo Vita será apresentado a 18 de Junho, em Fátima.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) recebeu, já neste ano, “uma primeira proposta” do Grupo Vita, de “possíveis critérios a seguir na atribuição de uma reparação moral, em termos financeiros, às vítimas de abuso sexual de crianças no seio da Igreja Católica”.

Numa nota emitida na semana passada, o gabinete de comunicação do CEP adiantou que deverá apresentar na Assembleia Plenária, a decorrer entre 8 e 11 de Abril, uma nova proposta de atribuição de reparações financeiras a vítimas de abusos sexuais contra menores e pessoas vulneráveis praticados no contexto da Igreja Católica.

Reforçar formação

Na nota enviada no domingo, adianta-se que no dia 21 deste mês os profissionais do Grupo Vita vão receber uma formação por parte do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise, do INEM.

“Esta formação justifica-se tendo em conta os atendimentos telefónicos que o Grupo Vita assegura, muitas vezes em situação de crise, com ideação suicida ou mesmo homicida”, lê-se na nota, a qual sublinha que “é fundamental reforçar as competências” dos elementos do grupo para intervenção “em crise” e em “situações de emergência”.

É referido igualmente que também estão agendadas acções de formação e capacitação das diversas estruturas eclesiásticas – catequistas, professores de Educação Moral e Religiosa Católica, docentes de escolas católicas e professores de escolas públicas. Nestas últimas, “a pedido da Direcção-Geral de Educação”.

O Grupo Vita, que pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (915090000) ou de formulário próprio no seu site, foi criado na sequência da divulgação do relatório elaborado pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.

Essa equipa validou 512 testemunhos de casos registados entre 1950 e 2022 e fez uma extrapolação para um mínimo de 4815 vítimas.

Os crimes sexuais contra menores acontecem em vários contextos, que não apenas o religioso. Segundo as estatísticas de 2023, divulgadas recentemente, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou 6776 crimes sexuais contra crianças e jovens nos últimos cinco anos. O ano em que mais crimes deste género foram reportados foi 2023, totalizando 1760 situações. A assessora técnica da direcção da APAV explicou ao PÚBLICO que o aumento do número de crimes sexuais contra crianças e jovens “tem muito que ver com a dimensão online”.

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