Outros detalhes para além da morte

Morte e Outros Detalhes é uma nova série de mistério em alto-mar. Uma criação de Heidi Cole McAdams e Mike Weiss, conta com Violett Beane e Mandy Patinkin no centro de tudo.

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Violett Beane e Mandy Patinkin investigam um homicídio num barco entre ricos DR
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Um barco. Gente rica. Muito rica. Que fez mal a outros. De repente, num dos quartos, um homem é assassinado. Felizmente, a bordo está o melhor detective do mundo – "são palavras deles, não minhas", comenta sempre que se referem a ele como tal. E, como assistente, a rapariga cujo assassínio da mãe ele não conseguiu resolver quase 20 anos antes. Quem é o assassino? Que ligações há entre estas pessoas todas? Que querelas, divórcios, traições, segredos, intrigas escondem estas vidas?

É esta a premissa de Morte e Outros Detalhes, uma série de mistério em dez episódios criada por Heidi Cole McAdams e Mike Weiss. Um original Hulu, estreou-se em Janeiro e chegou ao fim no início deste mês, tendo ficado disponível na íntegra em Portugal depois disso, via Disney+. O primeiro episódio é realizado por Marc Webb, produtor executivo.

É, tal como A Charada da Morte, de Herbert Ross, escrito por Stephen Sondheim e Anthony Perkins, ou Morte no Nilo, uma história de Agatha Christie, um whodunit num barco. Christie e o seu Poirot são, aliás, uma influência assumida dos criadores da série, havendo também referências a Dashiell Hammett ou Raymond Chandler e ainda à série Columbo.

No centro de tudo está Violett Beane como Imogene Scott. Em 2005, a mãe de Scott morreu devido a uma bomba num carro. Era assistente do CEO de uma poderosa empresa familiar, e essa família acolheu a pequena Imogene e pagou a Rufus Cotesworth (Mandy Patinkin, lenda da Broadway, bem como do grande e do pequeno ecrã), o tal detective, para descobrir o que se passou ao certo. Não correu bem. Volvidas duas décadas, estão os dois no mesmo barco de luxo, pago pela empresa. Há de tudo pelo meio: uma governadora, um padre com um filho que é estrela nas redes sociais, cocaína, sexo (e nudez gratuita que pode parecer um pouco sexista), sotaques estranhos, ofertas para assumir o controlo da empresa, empregados duvidosos, passageiros clandestinos, conspirações, etc.

A história é narrada por Cotesworth como se estivesse a escrever um livro. É um detective que passa a vida, seja a nós espectadores ou à sua assistente, a dar informações sobre como investigar e dispensando platitudes como coincidências serem só pistas, pedir para se prestar atenção ou dissertar sobre falsas memórias, entre outras. Nem sempre a escrita é brilhante, com uns quantos lugares-comuns, piadas e desfechos previsíveis, e há momentos involuntariamente absurdos. Além disso, nem todo o elenco é brilhante, se bem que muitas vezes parece que é mais por uma questão de direcção de actores do que de competência – Linda Emond como uma agente da Interpol é dos elos mais fracos, por exemplo. É feita com competência, com ideias interessantes sobre ricos contra pobres, crimes cometidos por ganância, justiça e vingança, questões de raça e de exploração de recursos e pessoas, entre outros. E é algo viciante. Não é que faltem séries que resolvem homicídios misteriosos por aí, seja na Disney+ – há uma quarta temporada de Homicídios ao Domicílio a caminho, tivemos recentemente Um Homicídio no Fim do Mundo – seja noutros sítios (The Afterparty, da Apple TV+, foi recentemente cancelada), mas este até tem o seu charme.

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