As eleições e o futuro da Escola Pública

Temos tido uma espécie de morte lenta da Escola Pública, que não aceitamos. Mas também não aceitaremos uma morte mais rápida da Escola Pública e dos restantes serviços públicos, como alguns pretendem.

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Estamos em tempo de escolhas políticas com as eleições de 10 de março. Os profissionais da educação sabem as dificuldades que os governos anteriores colocaram às suas vidas, mas hoje todos prometem resolver os nossos problemas na caça ao voto. Até mesmo aqueles que nos seus programas extremistas afirmavam querer destruir a escola pública, querem agora esconder as suas políticas. Foi e é a força da nossa luta que os obrigou a estes malabarismos, mas não nos deixaremos enganar nem parar de lutar.

Muitos trabalhadores deste país, dentro e fora das escolas, continuam com muitas dificuldades, com baixos salários e sem a devida compensação pelo seu esforço laboral. Dizem-nos que a economia do país está boa, que até baixou a dívida pública para menos de 100% do PIB mas as dificuldades não baixaram para quem trabalha. Nem melhorou a nossa vida, nem os serviços públicos que são essenciais à população.

Os governos do tempo da troika e os que se seguiram preocuparam-se muito em pagar uma dívida que não é nossa (de quem trabalha) mas dos poderosos que roubaram e endividaram o país. Mas os governantes que temos tido, de vários partidos, não tomaram em mãos o pagamento das verdadeiras dívidas que são necessárias pagar. As verdadeiras dívidas são aos trabalhadores em geral, aos pensionistas e aos serviços públicos que servem as populações.

Temos tido uma espécie de morte lenta da Escola Pública, que não aceitamos. Mas também não aceitaremos uma morte mais rápida da Escola Pública e dos restantes serviços públicos, como alguns pretendem.

A morte lenta que temos tido dos serviços públicos não responde às legítimas necessidades dos que constituem 99% da população – os trabalhadores, pensionistas e as nossas crianças/jovens. E, paradoxalmente, essa falta de resposta é o que permite estarmos hoje perante perigos de uma governação ainda pior no futuro próximo, uma governação que procure atacar ainda mais os mais fracos, com uma política que ainda destrua mais rapidamente os serviços públicos… Essas políticas nefastas, por exemplo na Educação, passam pelo regresso aos contratos de associação com colégios privados, aos cheques-ensino ou à medida economicista da extinção do 2.º ciclo. Estender a monodocência até ao 5.º e 6.º ano é uma medida que implicaria uma diminuição significativa na exigência e na qualidade de ensino em várias disciplinas prejudicando muito as nossas crianças.

A Escola Pública é a única que pode garantir a todos (filhos de ricos e pobres) o acesso a uma educação de excelência, mas há poderosos interesses que a pretendem desvalorizar porque com pior formação os futuros cidadãos serão mais fáceis de enganar e ludibriar… E, em simultâneo, tirar recursos à Escola Pública e a sua desvalorização beneficia o lucro das escolas privadas. Além de ataques à Escola Pública e a todos os que trabalham fora e dentro das escolas, essas políticas aumentam a divisão da nossa população com mais xenofobia, racismo, opressão, insustentabilidade ambiental e exploração.

Os problemas da Escola Pública não se resolvem, por exemplo, gastando milhões na excessiva digitalização do ensino (manuais e provas de aferição) que comprovadamente prejudicam a aprendizagem e a saúde das nossas crianças, mas investindo no que é mais importante, nos seus recursos humanos, valorizando e dignificando Assistentes Operacionais e Técnicos, Docentes e Técnicos Superiores e Especializados.

Se não se investir a sério nos serviços públicos e continuarmos a ter uma morte lenta ou morte mais rápida, a luta pelo bem comum vai continuar. Se no próximo governo os diferentes ministérios continuarem a estar unidos nos seus ataques contra os serviços públicos (Educação, Saúde, Justiça, Transportes, Media, etc), cada vez faz mais sentido uma grande e inédita luta, decidida democraticamente, que junte a defesa dos serviços públicos e de todos os que lá trabalham. Quem luta pode não ganhar sempre, mas quem nunca luta, nunca ganha!

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