As obras já podem avançar na Quinta dos Ingleses, em Carcavelos

Vice-presidente de Cascais referiu que “as obras vão começar” e que vai nascer no terreno um parque urbano até ao Verão de 2025. Associação vai apresentar providência cautelar e fazer manifestação.

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Vice-presidente da Câmara de Cascais assinou o alvará de obras para que a construção possa ser iniciada num terreno conhecido como “Quinta dos Ingleses” Rui Gaudêncio
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As obras para a construção de uma mega-urbanização num terreno conhecido como “Quinta dos Ingleses”, em Carcavelos, já podem avançar. O vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, Nuno Piteira Lopes, assinou o alvará de obras para que a construção possa ser iniciada. A associação SOS Quinta dos Ingleses, que tem vindo a contestar o empreendimento imobiliário projectado para o local, diz que está a pensar dar entrada a uma providência cautelar para travar as obras e vai fazer uma manifestação no terreno no dia 7 de Abril.

Na reunião da Assembleia Municipal de Cascais, a 26 de Fevereiro, após a intervenção de munícipes a propósito da Quinta dos Ingleses, o vice-presidente referiu que tinha assinado o alvará para se iniciarem as obras nesse terreno em Carcavelos. “As obras vão começar”, notou Nuno Piteira Lopes. Ainda não há uma data conhecida para esse início.

Na assembleia municipal, duas munícipes abordaram a construção pretendida no espaço da Quinta dos Ingleses. “Ando a sentir-me sufocada na vila onde cresci: de carros e de prédios. O verde cada vez está a acabar mais... O único espaço verde que temos em Carcavelos é a Quinta dos Ingleses”, disse Helena Botelho, que vive em Carcavelos. “Querem construir mais não sei quantas habitações que nem são para nós. Revolta-me imenso.” Já Maria Botelho assinalou que a Quinta dos Ingleses é “uma referência” para si e apelou a que a urbanização para ali projectada é uma “situação reversível”.

Nuno Piteira Lopes referiu que a situação não é reversível porque já tinha assinado o tal alvará. Quanto à crítica da falta de espaços verdes, indicou que é “na Quinta dos Ingleses que vai nascer o maior parque urbano da freguesia de Carcavelos e que vai estar pronto no Verão de 2025”.

A mega-urbanização na Quinta dos Ingleses envolve a edificação de 906 fogos, cujo número tem vindo a ser reduzido depois de a câmara ter aceitado fazer alterações. Essas alterações envolveram também a recusa de condomínios privados na urbanização. Nos terrenos, está ainda prevista a construção de um hotel de cinco pisos, espaços comerciais e de serviços, bem como um espaço empresarial ou um parque urbano. O “Alvará de Licença de Loteamento/Reparcelamento e Obras de Urbanização” está em nome da empresa de construção Alves Ribeiro e da St. Julian’s School Association (Associação do Colégio de São Julião), que são promotores do projecto. Com a emissão do alvará, são cedidos para domínio público municipal uma área de 21,4 hectares, o que corresponderá a espaços verdes (entre eles o tal parque urbano) e de utilização colectiva, assim como arruamentos viários, passeios e estacionamentos.

Grupo diz que vai fazer manifestação

O empreendimento na Quinta dos Ingleses tem sido polémico. Nos últimos anos, a associação SOS Quinta dos Ingleses tem-se manifestado contra o projecto. Em Novembro, o grupo interpôs uma acção judicial contra a Câmara Municipal de Cascais, a Alves Ribeiro e o Colégio St. Julian’s ​para tentar travar as obras. Questionado quanto ao alvará que permite que as obras avancem, Pedro Jordão, advogado e vice-presidente da SOS Quinta dos Ingleses, referiu ao PÚBLICO que a associação “está a pensar dar entrada a uma providência cautelar”.

O vice-presidente da SOS Quinta dos Ingleses conta que soube do alvará através da reunião da assembleia municipal e que a associação vai fazer uma manifestação contra o início das obras na Quinta dos Ingleses, mas também contra a construção já em curso em frente ao Bairro da Torre, em Carcavelos, e da construção de um hotel na Parede (de que o grupo fez uma queixa ao Ministério Público sobre a construção do hotel, que abriu um inquérito). “Vamos fazer um cordão [humano] a partir da estação de Carcavelos e vamos reunir-nos na zona do parque de estacionamento”, nota Pedro Jordão.

A construção da mega-urbanização na Quinta dos Ingleses tem vindo a arrastar-se desde os anos 60. Desde então, projectos têm vindo a ser discutidos e adiados. Em 1972, o terreno é vendido à empresa Savelos, que completa o primeiro projecto. A câmara aprova-o em 1982 e em 1987 aprova a primeira minuta de alvará de loteamento. Já em 2001, o projecto merece o chumbo da Assembleia Municipal de Cascais, por parte de todos os partidos com assento.

Contudo, em 2014, a Assembleia Municipal de Cascais aprova o Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul (PPERUCS), que permite a construção no terreno da Quinta dos Ingleses, que fica junto à marginal e corresponde a uma área de 54 hectares. Em 2021, o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras (PSD), disse no Parlamento que o município não tem capacidade para travar o projecto, alegando que isso implicaria o pagamento de uma “indemnização incomportável”, já que os promotores “têm direito adquirido sobre aqueles terrenos”.

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