Alterações climáticas estão associadas à perda de peso dos peixes no Pacífico

Estudo japonês analisou 13 espécies de peixes e associou quebra no peso de animais na década de 2010 ao aquecimento das águas. É importante a “conservação das áreas de desova”, diz cientista.

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As alterações climáticas podem ter impacto no peixe e na pesca no Japão EDGAR SU/Reuters
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O impacto do aquecimento global e das alterações climáticas na biodiversidade vai-se tornando evidente à medida que mudanças concretas vão ocorrendo nos ecossistemas. Um novo caso ficou agora conhecido no Noroeste do oceano Pacífico: investigadores do Japão verificaram que ao longo de 2010 o peso médio de várias populações de espécies de peixe foi diminuindo naquela região. A equipa associou essa quebra não só à competição entre animais, mas também à pouca disponibilidade de alimentos devido ao aquecimento das águas do oceano. O estudo foi publicado nesta quarta-feira na revista Fish and Fisheries.

“A situação que os peixes vivem é muito mais severa do que há algumas décadas”, explica ao PÚBLICO Shin-ichi Ito, investigador do Instituto de Investigação do Oceano e da Atmosfera da Universidade de Tóquio, no Japão, e líder da pesquisa agora publicada. “O peso dos peixes decresceu durante a década de 2010 devido à disponibilidade limitada de alimentos no contexto das alterações climáticas.”

O trabalho passou primeiro por uma análise de dados recolhidos da Agência das Pescas e da Agência Japonesa de Educação e de Investigação das Pescas do peso de 13 espécies de peixes e da abundância dos cardumes ao longo de décadas. No caso da sardinha-japonesa (Sardinops melanostictus), da cavala (Scomber japonicus), do Etrumeus teres (um tipo de arenque) e a anchova-japonesa (Engraulis japonicus), os dados recolhidos vão de 1978 a 2018. Nas outras nove espécies, como o carapau-japonês (Trachurus japonicus) e o bacalhau-do-Pacífico (Gadus macrocephalus), os dados começaram a ser recolhidos mais recentemente, de meados dos anos 1990 até 2018.

As quatro espécies com dados mais antigos são importantes porque mostram que tanto na década de 1980 como na década de 2010, houve, em geral, a diminuição do peso dos animais. Durante as décadas de 1990 e 2000, o peso dos peixes voltou a aumentar. Mas o que está por trás do fenómeno da quebra de peso é diferente para cada década, segundo o que aferiram os investigadores.

A equipa estudou causas possíveis para a diminuição do peso dos peixes, como a competição entre espécies pelo mesmo alimento e o aquecimento dos oceanos (os investigadores recorreram a dados de temperatura do oceano entre 1982 e 2014).

A tese do princípio do impacto das águas mais quentes no crescimento dos peixes é simples de se compreender. “O arrefecimento superficial das águas durante o Inverno torna-as mais densas à superfície e isso faz com que se misturem com as águas mais profundas [que também são densas], ricas em nutrientes”, avança Shin-ichi Ito. Este enriquecimento de nutrientes permite o fitoplâncton proliferar à superfície, onde há luz, o que vai estabelecer a base alimentar para o resto da cadeia do ecossistema marinho. O fitoplâncton vai servir de alimento para o zooplâncton, que, por sua vez, servirá de alimento a muitas espécies referidas acima.

Com o aquecimento global e o aquecimento das águas superficiais do oceano Pacífico, que se tornam menos densas, já não se dá a mistura de águas profundas. Por isso, chegam menos nutrientes à superfície. “A produção de plâncton decresce”, resume o investigador. Isso faz com que haja menos alimento disponível para os peixes.

Através de análise matemática, a equipa concluiu que a perda de peso que ocorreu em diversas espécies durante a década de 1980 esteve relacionada apenas com a competição. “A equipa atribuiu o declínio do peso ao aumento das sardinhas-japonesas, que provavelmente levaram a uma maior competição pelos alimentos entre elas e com outras espécies de peixes”, segundo o comunicado da Universidade de Tóquio sobre o estudo.

Mas, na década de 2010, a diminuição do peso de várias espécies já foi relacionada com o aquecimento das águas. “As temperaturas mais quentes diminuíram o fornecimento de nutrientes à superfície, e também a produção de plâncton”, conclui Shin-ichi Ito. “Com a limitação do fornecimento de alimentos, as espécies de peixes competiram entre si por alimentos. Então, a falta de alimentos gerou uma diminuição no peso dos peixes.”

Tendência a longo prazo

Segundo as Nações Unidas, o Noroeste do Pacífico foi responsável por quase um quarto do peixe pescado e vendido em 2019, avança o comunicado. No Japão, o peixe é um alimento muito importante. Por isso, o investigador teme que esta tendência tenha impacto na economia do país. “Ao diminuir a apanha de peixe, vai diminuir directamente o rendimento dos pescadores. Essa diminuição influencia indirectamente as empresas que fornecem alimento, as empresas de transporte e os consumidores.”

Apesar de haver variações normais ao longo das décadas do tamanho dos peixes, o investigador defende que a “longo prazo os peixes vão continuar a diminuir o seu peso”. Por isso, a gestão dos stocks de pesca terá de mudar para responder ao impacto das alterações climáticas.

“Tendo em consideração peixes com um tamanho menor, manter a população reprodutora [de cada espécie] é a questão mais importante, especialmente para as populações com menor biomassa”, afirma Shin-ichi Ito. “Por isso, a identificação das áreas de desova dos stocks de peixes com menor biomassa e a conservação das áreas de desova sãos as estratégias mais importantes para manter a sustentabilidade da pesca.”

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