O sino da igreja foi pontuando a conversa. Frederico Pedreira vive no Redondo há sete anos. A vila alentejana serve de base à vila ficcionada no romance que se segue ao premiado A Lição do Sonâmbulo: chama-se Sonata para Surdos e explora temas e obsessões de um romancista que é também poeta, ensaísta e tradutor.

Fala de Wittgenstein e dos seus jogos de linguagem. Fala da procura de qualquer coisa nova, inaugural, o início do som, da linguagem, um renascer.

Na entrevista a Isabel Lucas que dá a capa desta edição (as fotografias são de Rui Gaudêncio) fala-se de literatura: "Tem a utilidade de deixar as pessoas felizes durante um valente número de horas. Quanto a edificar pessoas, já tenho as minhas dúvidas." De "estar só", algo que Frederico alcança pela escrita: "Há pessoas que não conseguem estar sozinhas, não se conseguem ouvir a si mesmas, não conseguem estar em silêncio". E fala-se de um grande livro (merecedor de quatro estrelas e meia), Sonata para Surdos.

No livro-ensaio Novo Iluminismo Radical, a filósofa catalã de esquerda Marina Garcés defende a atitude crítica como saída para a impotência e o cinismo instalados. Vivemos tempos de "analfabetismo ilustrado": "sabemos tudo, mas não podemos nada". Para a esquerda tem uma mensagem: não se pode concentrar apenas "em travar a extrema-direita", diz na entrevista que deu ao Ípsilon. Fala-se também de tecnologia, educação e da moda da filosofia em Espanha.

"Não é pondo instrumentos novos ou fazendo fusões com outros estilos musicais que inovamos o fado", defende Teresinha Landeiro. "Tudo isso pode acontecer, mas, para mim, são opções paralelas. Inovar, mantendo a essência, acho que se faz através das palavras. É pegar numa melodia com 80 anos e pôr-lhe uma letra que foi feita há dois dias." O álbum Para Dançar e para Chorar é o seu grande passo de fadista adulta.

Inventaram um novo rock dentro do outro rock, alargando, estilhaçando, questionando as suas fronteiras. Queriam "destruir" a tradição e criar "algo totalmente novo". Chamaram-se Can: eram incríveis em disco e eram incríveis em palco. Live in Paris 1973 regista um concerto no Olympia da banda alemã, cuja influência reverbera intensa, 50 anos depois. O disco chega pouco depois da morte do seu emblemático vocalista, Damo Suzuki.

É preciso sonhar Godard. Há uma operação em curso para nos ajudar: traz o cineasta franco-suíço de volta às salas de cinema portuguesas. Com 11 filmes, alguns restaurados, um inédito em Portugal, é quase um greatest hits de Jean-Luc Godard, sobretudo no que toca ao fervilhante período inicial, a primeira metade dos anos 60.

Também neste Ípsilon:

- Duas peças de dança no Rivoli pela mão do Ballet de Lorraine;

- Ângela Ferreira transforma os vestígios da independência moçambicana em escultura;

- A Sala de ProfessoresIron ClawQuatro Filhas, entre outros filmes;

- Festim hip hop: o fenómeno português Van Zee, o rapper underground norte-americano Mike (ainda só disponível na edição impressa) e o regresso de Kanye West;

- Os novos discos de Paulo de CarvalhoLaetitia Sadier.

E há mais. Boas leituras!


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