Bancos direccionam empresas para cumprimento de indicadores de sustentabilidade

As PME estão cada vez mais comprometidas com a responsabilidade ambiental e social também por pressão da banca, que tem vindo “a enquadrar” a concessão de crédito no cumprimento de boas práticas.

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Os bancos levam em conta o cumprimento de critérios ESG “na avaliação global do projecto a financiar", nota o director-geral da Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva. "São directrizes gerais para todos os projectos e financiamentos.” Nuno Ferreira Santos (Arquivo Público)
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Nuno Ferreira Santos
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Por enquanto, apenas o nicho das pequenas e médias empresas (PME) cotadas está obrigado ao calendário formal das obrigações da directiva europeia de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (Corporate Sustainability Reporting Directive, no original em inglês), que entrou em vigor em 5 de Janeiro de 2023 e que define as regras de reporte corporativo de sustentabilidade para as empresas.

Todo o restante universo de PME – 1 452 225 empresas em 2022, segundo o portal Pordata – está “a procurar perceber qual a melhor abordagem para responder ao novo desafio” da incorporação dos parâmetros ESG (environmental, social, governance, em inglês) nas suas estratégias e resultados. Assim explica ao PÚBLICO o director-geral da Consulai, que opera na consultoria a projectos nacionais e internacionais, com foco no sector agrícola e agro-alimentar.

“Sentimos um interesse crescente nos temas relacionados com o ESG”, assume Pedro Santos, que tem “trabalhado sobretudo com fundos de investimento e grandes explorações agrícolas, na avaliação e monitorização de diferentes indicadores” nas componentes ambiental e social. Ainda não é “um movimento massificado”, mas o responsável da Consulai sabe que “há várias empresas”, nomeadamente do agro-alimentar, “a procurar perceber a melhor abordagem para responder a este novo desafio”. Até porque as cadeias de distribuição alimentar, “pela necessidade legal de reporte, terão de garantir que a cadeia de abastecimento responde, de forma integrada, aos objectivos ESG”. Esta é, pois, “claramente, uma prioridade para os próximos anos”.

Transformação da carteira de crédito

A banca “tem sido o principal vector de disseminação da mensagem”, sublinha o director-geral da Consulai. Os bancos vêem aí “uma forma de procurar acelerar a transformação da sua carteira de crédito no sentido de responder aos indicadores de sustentabilidade”. Não fazendo ainda depender a aprovação dos empréstimos desses referenciais, as instituições bancárias já estão a “enquadrar” o cumprimento desses parâmetros, “classificando o cliente e o investimento nos requisitos e solicitando informações extras”. “Se [as PME] cumprirem, as condições financeiras podem ser ligeiramente melhores”, diz Pedro Santos.

A EDIA fala com conhecimento de causa. Questionado sobre se a banca faz depender a aprovação de crédito do cumprimento de boas práticas ambientais, sociais e de governação, o presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva diz ao PÚBLICO que “não, explicitamente”. Ainda assim, José Pedro Salema sabe que os bancos levam isso em conta “na avaliação global do projecto a financiar. São directrizes gerais para todos os projectos e financiamentos.”

A EDIA diz-se “firmemente comprometida com políticas de promoção da sustentabilidade” em toda a cadeia de valor. “A estratégia ESG está no ADN da empresa”, garante Salema, frisando que, na última década, têm vindo a “especificar o reporte dos compromissos ao nível de políticas ambiental, social e de governança”.

Com a responsabilidade de gerir o maior lago artificial da Europa – 250 quilómetros quadrados entre os concelhos de Moura, Portel, Mourão, Reguengos de Monsaraz e Alandroal –, a EDIA olha sobretudo para os impactos ambientais da operação. José Pedro Salema fala dos “compromissos com o fornecimento de água de qualidade para a agricultura, promovendo a resiliência e adaptação às alterações climáticas”, mas, também, com “a produção, autoconsumo e fornecimento de energia limpa”. E de olhos postos na “descarbonização crescente”.

PME a várias velocidades

Se empresas como a EDIA já apresentam relatórios de “posicionamento com as estratégias de sustentabilidade”, “o desafio imposto pelas directivas europeias, de carácter imperativo, e com maior grau de exigência, vai ser significativo”. E vai levar a “um aumento considerável de empresas a cumprir estes critérios, nomeadamente entre as PME”, alerta o presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), em declarações ao PÚBLICO.

Luís Miguel Ribeiro está ciente de que “todas as PME que se posicionem de acordo com os critérios ESG acabam por estar em posição de vantagem significativa”, mas sendo este “um tema relevante, não é ainda suficientemente conhecido pelo nosso tecido empresarial”.

Por esse motivo, a AEP realizou, em Fevereiro, dois webinars “dedicados inteiramente a esta matéria”. Sob o lema “ESG na prática: a sua empresa está preparada para cumprir?”, a associação liderada por Luís Miguel Ribeiro envolveu empresários, gestores e outros quadros de “mais de cinco centenas de empresas”. O objectivo? “Explicar os impactos decorrentes da nova realidade que será imposta às empresas pelos governos, clientes, banca, consumidores, ONG e sindicatos, entre outros.”

“Imperativo no acesso a financiamento”

“A urgência da transição da economia para modelos de negócio mais sustentáveis é real e inadiável”, alerta Nuno Mangas, que foi presidente do Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI) e assumiu a presidência do COMPETE 2020 e, em Março de 2023, a liderança do COMPETE 2030 – Programa Inovação e Transição Digital (PITD).

“Os mercados e os consumidores exigem cada vez mais e de forma crescente que as empresas desenvolvam a sua actividade de forma sustentável”, diz Nuno Mangas. E “não basta ter um excelente produto ou serviço; é necessário que seja produzido respeitando o ambiente, tendo em conta o seu impacto social e prosseguindo boas práticas de governance”. Esta “preocupação tripla” – agora conhecida como critérios ESG – “é cada vez mais um factor de competitividade, para lá da qualidade e do preço”. E será “um imperativo para acesso a financiamento e à participação em cadeias de fornecimento globais”, adverte.


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