Ursula von der Leyen é candidata a segundo mandato na Comissão Europeia

A alemã anunciou a sua intenção de ficar mais cinco anos à frente do executivo comunitário. A candidatura será confirmada no congresso do Partido Popular Europeu de 6 e 7 de Março, em Bucareste.

Foto
Antes de avançar a sua candidatura, Ursula von der Leyen certificou-se de que dispõe de um apoio alargado no Conselho Europeu Reuters/FRANCOIS LENOIR
Ouça este artigo
00:00
05:32

A alemã Ursula von der Leyen, a primeira mulher a liderar a Comissão Europeia, desfez finalmente o tabu sobre um segundo mandato, e confirmou, nesta segunda-feira, que pretende manter-se no cargo por mais cinco anos.

Numa declaração na Konrad-Adenauer-Haus, a sede federal da CDU, em Berlim, a presidente do executivo comunitário anunciou que será candidata a cabeça de lista do Partido Popular Europeu nas eleições para o Parlamento Europeu de 9 de Junho, que lhe abrirá a porta a um segundo mandato se, como indicam todas as sondagens, a família política democrata-cristã continuar a ser a maior do hemiciclo.

“Tomei uma decisão consciente e ponderada e sou candidata a um segundo mandato [na Comissão Europeia]. Estou muito grata à CDU por me ter nomeado para ser a cabeça de lista do PPE”, anunciou Ursula von der Leyen, ao lado do presidente da CDU, Friedrich Merz.

“Para mim, o mais importante é reforçar a democracia da Europa e da União Europeia, e responder a todos os desafios à nossa volta, de modo que todas as pessoas se sintam protegidas e seguras na UE”, justificou.

Apresentada a candidatura, o nome de Ursula von der Leyen será formalmente aprovado como a cabeça de lista (Spitzenkandidat) do Partido Popular Europeu para a presidência da Comissão Europeia no congresso electivo marcado para 6 e 7 de Março, em Bucareste.

A nomeação do presidente da Comissão Europeia é uma prerrogativa dos chefes de Estado e Governo da União Europeia, que não precisam de unanimidade, mas apenas de uma maioria qualificada que represente 55% dos países da UE e 65% da população total. Porém, a sua escolha está sujeita à aprovação do Parlamento Europeu, numa votação por maioria absoluta (metade de todos os eurodeputados mais um).

O tratado diz que os líderes devem ter em conta os resultados das eleições europeias, mas não contém qualquer referência ao princípio dos Spitzenkandidaten, segundo o qual o partido mais votado tem o direito de apresentar o candidato à presidência da Comissão. Uma “inovação” introduzida pelo Parlamento Europeu antes das eleições de 2014, e que só foi seguida uma única vez, com a eleição do luxemburguês Jean-Claude Juncker, cabeça de lista do PPE.

A eleição de Von der Leyen como cabeça de lista do PPE foi uma das três condições fixadas pelos partidos que compõem o Governo de coligação da Alemanha para o país apoiar o seu segundo mandato na Comissão (as outras duas seriam de que o centro-direita teria de ser o partido mais votado e que Von der Leyen pudesse recolher uma ampla maioria para a reeleição).

Antes de avançar a sua candidatura, Ursula von der Leyen certificou-se de que dispõe de um apoio alargado no Conselho Europeu — a alemã deverá contar com os votos de todos os líderes, excepto do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que recentemente preencheu o país com cartazes contra a UE, utilizando a fotografia de Von der Leyen e prometendo que o seu país “não vai dançar ao som da sua música”.

Durante a distribuição dos cargos de topo das instituições comunitárias, em 2019, os líderes do Conselho Europeu ignoraram o processo dos chamados Spitzenkandidaten e as escolhas pré-eleitorais das diferentes famílias políticas: o nome de Ursula von der Leyen, à época ministra da Defesa da Alemanha, não fazia parte das listas de candidatos, mas acabou por ser posto em cima da mesa pela chanceler Angela Merkel, para desbloquear o impasse depois de três dias de negociações.

A sua nomeação surpresa foi inicialmente mal recebida pelos eurodeputados, que criticaram o facto de a futura líder do executivo não se ter apresentado ao escrutínio dos eleitores europeus. O descontentamento do Parlamento Europeu acabou por se manifestar durante a votação, com Von der Leyen a ser eleita presidente da Comissão com maioria absoluta de 383 votos a favor, 327 votos contra, 22 abstenções e um voto nulo — uma maioria “curta” e que “foi difícil de conquistar”, como reconheceu.

Para garantir os votos das principais bancadas de centro-direita, centro-esquerda, liberais e verdes, Von der Leyen desenhou um programa político recheado de compromissos para promover uma transição verde e digital, justa e inclusiva na Europa, aos quais foi tentando corresponder durante um mandato recheado de crises globais e que testaram a sua ambição de liderar uma Comissão geopolítica: o "Brexit", a pandemia de covid-19, a crise energética e inflacionária e, principalmente, a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e, nos últimos meses, a guerra de Israel contra o Hamas.

Em 2019, quando apresentou a sua agenda ao Parlamento Europeu, Von der Leyen não se preocupou muito em garantir o apoio dos eurodeputados conservadores eurocépticos, nem dos eleitos da extrema-direita, que desta vez poderão representar um quarto dos votos do hemiciclo. Tal como vários analistas, a alemã espera pelos resultados da votação para perceber se a nova configuração parlamentar permite reeditar a grande coligação europeísta ao centro, ou se uma possível guinada à direita obrigará a rever o programa político para os próximos cinco anos.

Numa intervenção na Conferência de Segurança de Munique, neste sábado, Ursula von der Leyen defendeu a criação de um novo portfólio da Defesa no próximo colégio de comissários — uma proposta que está inscrita no programa eleitoral do PPE —, e manifestou preferência que o cargo fosse entregue a um candidato do Leste da Europa (na bolsa informal de apostas, o nome mais cotado é o do actual ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Radoslaw Sikorski).

Na visão de Von der Leyen, este novo comissário da Defesa ficaria responsável pela supervisão da política industrial de defesa e pela gestão dos vários mecanismos e instrumentos financeiros relacionados com a aquisição conjunta de munições ou o aumento da capacidade de produção de armamento.

Em respostas aos jornalistas durante a conferência de imprensa, em Berlim, Von der Leyen repetiu que a segurança será “um dos principais tópicos” do seu programa, cujo slogan poderá resumir-se à frase “defender a democracia e os nossos valores”. O outro grande tópico” será a promoção da competitividade da economia europeia, acrescentou a presidente da Comissão.

Sugerir correcção
Ler 67 comentários