Educação Relacional, uma chave para o futuro

A Educação Relacional pode contribuir para melhores aprendizagens, para a melhoria do bem-estar de todos os grupos envolvidos no ecossistema educativo e para a utilização mais eficiente dos recursos.

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Não há aprendizagens significativas fora de um quadro de relações significativas, disse James Comer. Este valor da relação, como centro de um processo de ensino-aprendizagem, deve ser recuperado urgentemente, para um novo impulso na vida das nossas escolas.

O mais recente documento da UNESCO, “Reimaginar futuros juntos para um novo contrato social na educação” repete sucessivamente esta tónica. Lembra-nos, por exemplo, que “A educação é um processo relacional – entre estudantes, professores, famílias e comunidades – e, como tal, devemos buscar o conhecimento relacional e não hierárquico.” (p. 129).

A criação de um vínculo positivo entre quem ensina e quem aprende é fundamental. “A pedagogia é relacional. Tanto professores como alunos são transformados por meio do encontro pedagógico, à medida que aprendem uns com os outros. A tensão produtiva entre a transformação simultânea, individual e coletiva, define os encontros pedagógicos. As nossas vidas interiores influenciam os nossos ambientes e, ao mesmo tempo, são profundamente afetadas por eles” (p.49), diz-nos também o referido relatório da UNESCO.

Por outro lado, necessitamos de recuperar a ambição de que os nossos educadores, docentes e outros profissionais que servem a educação, possam ser verdadeiros referentes para as nossas crianças e jovens. E isso passará pela construção de relações fortes. Ter referentes que, para além de serem exemplo, nunca desistirão dos seus alunos, fará uma diferença colossal numa relação educativa. Isto é particularmente urgente quando se sente que, na escola, muitos baixaram os braços e estão exaustos, mais perto de desistir do que persistir.

A dimensão relacional tem expressão máxima no eixo educador-aluno, mas não se esgota nele. Da teoria dos sistemas sabemos que estes são compostos não só pelos elementos que o integram, mas também pelas suas relações, não podendo ignorar que estas, na sua plenitude, são decisivas e interdependentes. Nesse sentido, para servir com qualidade os estudantes, centro da educação, é necessário cuidar de todas as relações que integram este sistema. Os eixos relacionais educador-educador, aluno-aluno, escola-família ou escola-comunidade devem ser tidos em conta, de uma forma estratégica e operacional, nos projetos educativos de escola. Sendo todos eles importantes, sublinha-se particularmente um que sofreu grande desgaste e necessita ser regenerado: o da escola-família.

Para todos aqueles eixos, o desenvolvimento de uma autoconsciência relacional (saber-se ser relacional, interdependente em relação a outros), a valorização da singularidade de cada um e a complementaridade entre todos, ou a opção por uma abordagem positiva, baseada nas forças de cada um, são algumas das pistas que a pedagogia do reconhecimento, de Joan Quintana, do Instituto Relacional de Barcelona, nos propõe.

A Educação Relacional, se devidamente estruturada, pode contribuir para três resultados vitais: melhores aprendizagens e de maior qualidade, expressas em verdadeiro sucesso educativo; 2) melhoria do bem-estar e qualidade de vida de todos os grupos profissionais envolvidos no ecossistema educativo; 3) maior eficiência do sistema, com a consequente melhoria da utilização de recursos disponíveis. Alcançar qualquer um destes objetivos já seria suficiente para dar valor a esta aposta. Poder chegar a todos eles, torna irrecusável esta aposta.

Precisamos, por tudo isto, de colocar a Educação Relacional no topo da agenda educativa. Desde os decisores políticos até à Academia, dos líderes escolares às famílias, todos temos essa responsabilidade partilhada, para que melhores relações garantam melhor sistema educativo.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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