Os polícias devem regressar às esquadras

Os polícias já mostraram a sua posição com uma força e vigor inéditos e foram escutados: a generalidade da sociedade parece estar de acordo com as suas reivindicações.

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Ao pretender resolver um problema na Polícia Judiciária, numa atitude no mínimo negligente, o Governo criou, por contágio, um enorme problema que tem transbordado para as ruas em manifestações das forças policiais, que começam a assumir os contornos graves de uma insurreição.

O mesmo primeiro-ministro que durante anos fez finca-pé com a questão do descongelamento do tempo de serviço dos professores, por o risco de contágio a outros sectores da função pública não ser orçamentalmente sustentável, não viu o desastre aproximar-se.

“A atribuição dos suplementos resulta do seu regime especial de trabalho e dos ónus inerentes ao exercício de funções em condições de risco, insalubridade e penosidade.” Como é que esta frase, aplicada aos agentes da Judiciária no diploma que consagrou o aumento de suplementos, não se poderia aplicar às restantes forças policiais? Mesmo que as profissões tenham diferentes exigências de formação e diferentes quadros remuneratórios, não era imaginável que os elementos da GNR e da PSP não sentissem como injusta a discriminação a que estavam sujeitos.

Do protesto solitário do agente Pedro Costa até às ameaças de um boicote às eleições legislativas do presidente do Sindicato Nacional da Polícia, o país tem assistido a uma escalada de contestação que parece estar também a contagiar outros sectores da sociedade, como é o caso dos bombeiros sapadores, que se concentraram ontem à frente do Parlamento.

Fomentando uma cultura de remendos, o Governo cometeu um erro e criou uma injustiça, mas desde 8 de Dezembro tem uma boa justificação para não fazer nada de estrutural: é um Governo de gestão e assumir uma medida que implica aumentos para 44 mil profissionais das forças de segurança não parece ser algo de desejável neste período. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que até concorda com as reivindicações dos polícias, deixou isso bem claro, recomendando que seja o executivo que saia das próximas eleições a tomar medidas.

Os polícias já mostraram a sua posição com uma força e vigor inéditos e foram escutados: a generalidade da sociedade parece estar de acordo com as suas reivindicações. Continuar a prosseguir, em período eleitoral, a contestação com atitudes “espontâneas” de indisciplina é alimentar a desconfiança de que há algo mais na sua luta do que reivindicações remuneratórias. Os polícias deviam reflectir sobre isso e regressar às esquadras até pelo menos ao dia 11 de Março. Depois disso, podem sempre regressar à rua.

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