A Internet de casa ao serviço das crianças

Ensinar a distinguir informação e publicidade, alertando que nem tudo é verdadeiro e nem toda a gente é quem diz ser.

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O TikTok é uma das redes sociais mais usadas pelas crianças e jovens Reuters/DADO RUVIC
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O Dia da Internet Segura, apoiado pela Comissão Europeia, é uma iniciativa global promotora da literacia digital e da utilização responsável de tecnologias por crianças, adolescentes e famílias. Todos os anos, em Fevereiro, várias entidades identificam desafios, partilham o “estado da arte” e desenvolvem estratégias para um ambiente digital mais seguro.

A nossa influência na vida digital das crianças pode ir além dos controlos parentais ou limites de tempo de ecrã. Temos a oportunidade de estabelecer uma Internet segura em casa que dá prioridade à experiência das crianças e de sermos os seus principais influenciadores. Participando, desde cedo, de forma ativa no seu percurso digital, criamos confiança e uma vivência online segura e positiva.

Como preparar a Internet para as crianças?

Desenvolver competências críticas e mecanismos de defesa é essencial para que as crianças vivam bem no mundo digital e físico. Uma Internet segura em casa implica estabelecer a comunicação aberta e a orientação sobre as melhores práticas. Mesmo que nem todos sejam especialistas digitais, não estão a iniciar-se do zero, o conhecimento diário de utilizador serve de base para partilhar conhecimentos, aprimorar a consciência e a literacia digital e reforçar laços familiares.

Alguns tópicos práticos para criar, em casa, uma abordagem centrada na criança, pondo-a no lugar do condutor da sua experiência tecnológica:

1. Identidade, privacidade e agência digital

É importante ensinar que a identidade digital merece tanto cuidado e consideração quanto a offline. Evitar divulgar informações pessoais, partilhar fotografias sem identificar crianças nem, o seu rosto e seguir sempre o princípio de “ler antes de clicar”. Proteger-se, não partilhando passwords, atualizando o software regularmente e tendo cautela ao descarregar e carregar ficheiros ou instalar apps.

2. Segurança de dados e proteção das crianças

Para uma experiência segura, bloquear serviços de localização, limitar cookies e escolher plataformas seguras com página dedicada à política de proteção das crianças, com mecanismos de apoio e contactos de emergência. Verificar as configurações de segurança dos dispositivos da chamada “Internet das Coisas” (IoT é a sigla inglesa), especialmente da Internet dos Brinquedos: peluches, bonecos, jogos, tablets ou outros brinquedos controlados por uma ligação à Internet. Manter em mente o princípio de que, mesmo não sendo concebido para crianças, pode ser utilizado por elas.

3. Cyberbullying e deep fake

Ensinar a distinguir informação e publicidade, alertando que nem tudo é verdadeiro e nem toda a gente é quem diz ser. Reforçar a regra de evitar comunicar com estranhos, como no mundo físico, e apoiar, com especial atenção, a gestão das amizades online. Lembrar a importância de bloquear dispositivos após o uso e fazer sempre logout das contas. Explorar questões como manipulação de imagens, contas falsas e fake news. Destacar os perigos do deepfake, a tecnologia de inteligência artificial que sobrepõe rostos e vozes reais para criar vídeos falsos e que pode envolver figuras públicas, celebridades ou mesmo manipulação da própria imagem. Incentivar a literacia digital, estimulando a análise crítica e a desconstrução das informações encontradas online.

4. Filtros adequados à idade

Preferir browsers e motores de busca seguros, feitos para crianças, que restrinjam conteúdos inadequados, de preferência, sem anúncios. Fazer a curadoria de conteúdos de qualidade e verificar as classificações etárias: 16 anos é a idade mínima para a utilização de redes sociais.

5. Pegada digital e cidadania digital

Cada ação online deixa uma marca que não se pode apagar. Ao utilizar redes sociais, deve-se proteger não apenas a sua identidade, mas principalmente a das crianças e dos seus amigos. As imagens podem revelar informações sensíveis, como, por exemplo o nome da escola nos uniformes. Educar sobre a importância do consentimento na captura e uso de imagens e a utilização da imagem própria por si mesmo ou pelos outros. Promover o respeito próprio e pelos outros ajudará as crianças a respeitarem também o espaço dos seus pares.

Conclusão

Uma Internet centrada nas crianças começa com o empenho de todos e com a tomada de decisões informadas. Criar resiliência digital em casa de forma atenta, acompanhar o desenvolvimento tecnológico das crianças, com um diálogo aberto e utilizando o mundo físico como metáfora, vai ajudá-las a entender melhor o mundo digital e a criar uma Internet mais segura para todos.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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