Santander Portugal aumenta lucros em quase 60% para 895 milhões

O crescimento da margem financeira, num ano de subida das taxas de juro motivada pelas decisões de política monetária do BCE, impulsionou os lucros de 2023 do Santander.

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Pedro Castro Almeida, presidente do Santander Portugal LUSA/TIAGO PETINGA
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O Santander Portugal reportou resultados líquidos de 894,6 milhões de euros em 2023, valor que representa um aumento superior a 57% face aos lucros de 568,5 milhões de euros que tinham sido alcançados no ano anterior. A justificar este crescimento está, como aconteceu com a generalidade dos bancos durante o ano passado, o cenário de subida das taxas de juro, que tem tornado o crédito mais rentável para a banca.

Os resultados do Santander foram anunciados nesta sexta-feira, em conferência de imprensa. "Temos um bom resultado, de 894,6 milhões de euros, o que representa, como é a tendência de todo o sector na Europa, um crescimento assinalável relativamente ao ano passado", disse o presidente executivo do banco, Pedro Castro Almeida, que justificou este crescimento não só com "a subida das taxas de juro", mas, também, com o "trabalho de transformação comercial e digital", num ano em que o banco ganhou 70 mil clientes.

Estes resultados são registados num ano em que a margem financeira (indicador que mede a diferença entre os juros cobrados pelos bancos no crédito concedido e os juros que pagam nos depósitos de clientes) quase duplicou. Em 2023, o banco alcançou uma margem financeira de 1491 milhões de euros, valor que representa uma subida de 90,5% em relação ao ano anterior. Este valor, explica o Santander, reflecte "as alterações de política monetária implementadas em 2023". Entre Julho de 2022 e Setembro de 2023, o Banco Central Europeu (BCE) aumentou a taxa de juro de referência em 450 pontos-base, para o actual nível de 4%.

Apesar do impacto evidente desta política monetária nos resultados do banco, o Santander ressalva que "ocorreram vários factores de sinal oposto, destacando-se a maior procura de crédito à habitação a taxa mista, assim como a persistência de um contexto concorrencial bastante competitivo e num quadro de elevada liquidez do sistema bancário, que continuou a resultar numa dinâmica em que as taxas de juro das operações activas não acompanharam na totalidade a evolução das taxas de mercado, pressionando em baixa os spreads de crédito".

Em sentido contrário ao do crescimento da margem financeira, as receitas obtidas por via das comissões líquidas caíram em 2,8% e totalizaram 457 milhões de euros, o que reflecte "factores diferenciados, tais como a reacção dos clientes ao impacto do contexto de elevada inflação sobre os orçamentos familiares e consequente diminuição dos volumes de novo crédito, em especial hipotecário, várias alterações legislativas, que limitam a cobrança de comissões num conjunto de serviços bancários, e a dissipação de efeitos de base relacionados com a recuperação pós-pandémica, em 2022".

Ao mesmo tempo, os custos operacionais aumentaram em 7% e ascenderam a 519,8 milhões de euros, uma evolução explicada pelo "contexto de elevada inflação que caracterizou grande parte do ano de 2023". Entre os factores que levaram a esta subida, o Santander aponta para a "actualização salarial implementada em 2023".

Já os resultados em operações financeiras totalizaram 23,9 milhões de euros, uma queda de 27,4% em relação a 2022.

O produto bancário totalizou, assim, 1956,2 milhões de euros, uma subida de 51,5% em relação ao ano anterior, que é explicada exclusivamente pelo crescimento da margem financeira.

Estes são os indicadores que contribuíram para o resultado líquido de perto de 895 milhões de euros, que é recorrente, isto é, não considera eventos extraordinários que, à partida, não irão repetir-se em exercícios seguintes. Mas, considerando o impacto da venda do negócio segurador em Portugal ao próprio grupo Santander (que criou uma holding para juntar os negócios de seguros em todo o mundo), que resultou numa mais-valia próxima de 200 milhões de euros, o Santander reporta um resultado líquido consolidado superior, de mais de 1030 milhões de euros. Em qualquer dos casos, os lucros alcançados em 2023 são os mais elevados da história do Santander em Portugal, esclareceu Pedro Castro Almeida.

Actividade comercial em queda

O crescimento da margem financeira foi, ainda, suficiente para compensar a actividade comercial, que registou quebras a vários níveis.

No ano passado, o Santander viu a carteira de crédito total aumentar em 3%, para perto de 44,6 mil milhões de euros, mas o desempenho não foi igual em todos os segmentos. Por um lado, o crédito a particulares diminuiu em 4,7% e totalizou 24,1 mil milhões de euros, fruto, sobretudo, da queda do crédito à habitação. Em causa, o contexto de subida das taxas de juro, que levou a um crescimento da amortização antecipada de créditos.

Já o crédito a empresas aumentou em 13,7% e ascendeu a quase 20,5 mil milhões de euros. Aqui, incluem-se "várias operações de refinanciamento de empresas de maior dimensão".

Ainda no que diz respeito ao crédito, o presidente do Santander salientou que o contexto de inflação e de taxas de juro elevadas, que levou a uma diminuição dos rendimentos disponíveis das famílias, não implicou uma deterioração da qualidade da carteira de crédito, até porque o desemprego não aumentou. Assim, o rácio de crédito malparado diminuiu de 2% em 2022 para 1,7% em 2023.

A amortização antecipada de créditos resultou não só numa diminuição da carteira de crédito do Santander, mas também numa queda dos depósitos. Assim, os recursos totais de clientes diminuíram em 5,4% e totalizaram 43,3 mil milhões de euros, reflectindo a queda de 8,5% dos depósitos, que totalizaram 35,2 mil milhões de euros. Esta quebra foi atenuada, em parte, pelo aumento de 11% dos recursos fora de balanço (em que se incluem fundos de investimento e seguros geridos ou comercializados pelo banco), uma vez que houve uma transferência de parte dos depósitos para este tipo de produtos.

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