Sobrevivente de ataque com ácido é capa de livro de moda em nova campanha de sensibilização

Depois de mais de uma centena de cirurgias, Patricia Lefranc faz parte de uma nova campanha que chama a atenção para os efeitos devastadores da violência com ácido.

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Patricia Lefranc, 59 anos, faz parte de uma nova campanha de Rankin e da instituição de beneficência Acid Survivors Trust International REUTERS/Yves Herman
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Patricia Lefranc, 59 anos, faz parte de uma nova campanha de Rankin e da instituição de beneficência Acid Survivors Trust International REUTERS/Yves Herman
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Patricia Lefranc, 59 anos, faz parte de uma nova campanha de Rankin e da instituição de beneficência Acid Survivors Trust International REUTERS/Yves Herman
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Patricia Lefranc, 59 anos, faz parte de uma nova campanha de Rankin e da instituição de beneficência Acid Survivors Trust International REUTERS/Yves Herman
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Sentada em casa, na cidade belga de Nivelles, Patricia Lefranc, sobrevivente de um ataque com ácido e activista, folheia um elegante livro de fotografias suas, tiradas pelo fotógrafo de moda britânico Rankin.

Numa delas, segura uma fotografia sua antes do devastador ataque de um ex-amante, em 2009. Outras mostram-na em diferentes poses ao longo do lookbook, um catálogo de fotografias normalmente utilizado pelas marcas de moda.

“Aprendi a ver-me depois [do ataque]. Se tivesse visto esta fotografia de mim própria há cinco ou seis anos, ter-me-ia desfeito em lágrimas”, confessa Patricia. “Vai parecer duro dizê-lo — mas aprendi [a viver com] esta fealdade. Sou eu.”

Foto
Patricia Lefranc McCann Health London/Rankin (via REUTERS)

Patricia Lefranc, 59 anos, faz parte de uma nova campanha de Rankin e da instituição de beneficência Acid Survivors Trust International (ASTi), que procura sensibilizar para os efeitos devastadores da violência com ácido e para a correlação geográfica entre a utilização de corrosivos pela indústria, nomeadamente na moda e nos têxteis, e a frequência dos ataques.

“As áreas afectadas pela violência com ácido em países como o Bangladesh​, o Camboja e o Paquistão são aquelas onde existe uma grande base industrial de moda”, contextualiza o director executivo da ASTi, Jaf Shah, à Reuters.

“O lookbook é uma ferramenta de defesa concebida para aumentar a consciencialização e encorajar as empresas a tomar medidas para ajudar a prevenir ataques, introduzindo controlos mais rigorosos em torno de substâncias corrosivas que têm sido usadas como arma por homens contra mulheres”.

Segundo Shah, o lookbook tem como público-alvo executivos seniores que trabalham na indústria da moda.

Para além dos retratos de Patricia, o lookbook “Tear Couture” centra-se em países com indústrias têxteis e nos ataques com ácido que aí ocorreram.

Segundo Shah, pelo menos dez mil ataques com ácido ocorrem todos os anos em todo o mundo, mas a subnotificação continua a ser um grande problema. “Poucos países têm os ataques com ácido como uma infracção específica, pelo que não sabemos realmente o número total de ataques que ocorrem a nível mundial”, afirmou.

O agressor de Lefranc, condenado a 30 anos por tentativa de homicídio, fez-se passar por um estafeta quando a encharcou com ácido. “Eu estava a rastejar, não conseguia andar, e vi que o meu braço estava a derreter como uma aspirina efervescente e disse para mim mesma: ‘Vais morrer aqui’”, recordou.

Patricia, cujo rosto e corpo estão cheios de cicatrizes, passou três meses em coma após o ataque e foi submetida a mais de uma centena de cirurgias.

“Simplesmente disse a mim própria: ‘Olha, se ainda estás viva é por uma razão. Tem de haver uma razão’”, disse ela. “Mesmo antes do que aconteceu, eu era uma lutadora, estava sempre ocupada e não queria ficar fechada em casa e dar-lhe essa satisfação.”

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