Taxas Euribor abrandam descida à espera de sinais do BCE
O indexante utilizado na maioria dos empréstimos à habitação existentes em Portugal registou quedas mais pronunciadas no início do mês.
O mercado antecipa uma descida de taxas directoras do Banco Central Europeu (BCE) no primeiro semestre, mas está menos convicto de que essa decisão venha a acontecer já em Abril. Esta é a explicação para a ligeira “travagem” nas taxas Euribor, particularmente influenciadas pelas decisões de política monetária do banco central verificadas nas últimas duas semanas.
Depois de um final do ano e primeiros dias de Janeiro com sinais bem mais optimistas em relação ao calendário de descida das taxas directoras, o mercado está claramente à espera das conclusões da reunião desta quinta-feira, que ocorrerá cerca de uma semana depois de a presidente da instituição, Christine Lagarde, admitir como provável um corte de taxas “lá para o Verão”, alertando, no entanto, para a existência de “alguma incerteza" e de que "alguns indicadores" não estão de acordo com o que é necessário para que esse corte aconteça.
Antes das declarações de Lagarde, o mercado antecipava uma descida de 25 pontos base, ou 0,25%, em Abril, a que acresceriam cortes mais ambiciosos, num total de 1,5% ao longo do ano. Um ritmo de descida que pode ser mais lento, até porque a inflação voltou a subir em Dezembro na zona euro, para 2,9%, contrariando a tendência de queda que se verificava há sete meses. A que acresce ainda a tensão que se verifica no Mar Vermelho, que pode agravar os custos de transporte de um elevado número de mercados, com os impactos em cadeia que pode desencadear.
A revelar maior incerteza sobre o timing e rapidez do corte de taxas, as Euribor iniciaram a semana em alta nos prazos a 12 e seis meses, e desceram a três meses. O prazo mais longo, que de acordo com dados recentes do Banco de Portugal é o que está presente em maior número de contratos (37,4%), subiu para 3,672%. O intermédio, presente em 36,1% da carteira, subiu para 3,925%, e o mais curto, e menos representado no conjunto dos empréstimos (23,9%), desceu para 3,945%.
Os valores dos três prazos apresentam alguma distância face aos valores mínimos verificados ao longo do corrente mês, especialmente no de 12 meses, que, depois de cair para 3,532%, atingiu nesta segunda-feira o valor mais alto, nos 3,672%. Também a Euribor a seis meses já fixou o seu mínimo em 3,861%, mas neste caso o valor mais elevado foi verificado na semana passada, nos 3,929%. No mesmo sentido, o prazo mais curto, que por sinal é agora o que apresenta valor mais elevado, esteve mais baixo na semana passada, em 3,903%.
Se não for contrariado nas sete sessões que ainda restam para a fixação das médias mensais, o abrandamento nas descidas vem "atrasar" a redução dos encargos nos empréstimos à habitação e às empresas associados a taxas variáveis.
As médias das 15 sessões do mercado monetário em Janeiro estão próximas dos valores de Dezembro. A de 12 meses está em 3,606% (contra 3,679% na totalidade de Dezembro), a de seis meses em 3,893%, anteriormente em 3,927%, e a de três meses em 3,930%, praticamente sem alteração (3,935%) face ao último mês do ano passado.
A descida das taxas que estão presentes na grande maioria dos empréstimos à habitação é bem mais pronunciada quando comparada com os máximos registados no ano passado. As médias mensais mais elevadas da Euribor a 12 e a seis meses foram atingidas em Outubro, nos 4,160% e 4,115%, respectivamente. E a três meses, o valor mais alto é o de Novembro, quando atingiu 3,970%.
As taxas Euribor começaram a subir no início de 2022, altura em que a inflação começou a disparar na zona euro e na Europa em geral. Esta subida dos preços, agravada após a invasão da Ucrânia pela Rússia, "obrigou" o BCE a subir as taxas de juro, de forma a trazê-la para a meta fixada, que é de 2%. Na escalada de subida, o BCE colocou a taxa de depósitos, que serve de referência para os custos de financiamento na zona euro, em 4%.