Protesto de polícias: ministro reuniu-se em segredo com sindicatos na sexta-feira

Protesto iniciado por agente isolado alastrou a todo o país. Há viaturas de serviço paradas e agentes a dormir ao relento.

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Protesto dos polícias dura há quase uma semana, com epicentro na Área Metropolitana de Lisboa Nuno Ferreira Santos
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Cinco dias depois de um polícia isolado ter dado origem a protestos que alastraram a todo o país, o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, teve uma reunião discreta, na sexta-feira, com a plataforma sindical que junta vários sindicatos da PSP e congéneres da GNR, para discutir questões remuneratórias. Segundo informações que circulam entre os polícias, terá pedido aos sindicalistas propostas de correcção salarial.

Tudo aconteceu nesta sexta-feira ao final do dia, depois de uma sessão sobre o futuro centro interpretativo do 25 de Abril, no Terreiro do Paço, num encontro mantido em segredo entre representantes das forças de segurança e o titular da pasta. O PÚBLICO apurou que se tratou de uma reunião informal, tendo o governante dito, nessa reunião, que uma solução mais concreta deverá constar dos programas eleitorais às eleições de 10 de Março. Defendeu que deve haver alterações tanto à remuneração de base destas forças de segurança como nos suplementos salariais. E também se terá queixado de estar a ser injustiçado, por os sindicalistas não reconhecerem os esforços que tem feito nesta matéria.

Já neste sábado, o novo líder do PS, Pedro Nuno Santos, mostrou-se igualmente disponível para receber os sindicatos, no largo do Rato, aparentemente por indicação do ministro da Administração Interna, que foi seu adversário nas eleições directas de Dezembro para a liderança do partido. Foi na reunião da comissão política socialista, em Coimbra, encontro no qual José Luís Carneiro considerou essencial a melhoria das remunerações e suplementos dos agentes das forças de segurança.

“Manter forças e serviços de segurança motivados impõe um esforço adicional do Estado para continuar e reforçar as suas condições de vida, nomeadamente remuneratórias. Implica manter o caminho que tem sido feito para melhorar salários, modernizar infra-estruturas e equipamentos, conferir melhores condições de vida”, disse José Luís Carneiro, perante o órgão máximo dos socialistas entre congressos, citado pela agência Lusa.

A subida de um suplemento salarial dos inspectores da Polícia Judiciária de 460 euros para cerca do dobro foi um dos factores que fizeram desencadear os protestos, a par das condições de trabalho.

No passado domingo um agente que presta serviço no aeroporto de Lisboa, Pedro Costa, iniciou sozinho uma vigília junto à escadaria da Assembleia da República –​ que ainda mantém –, tendo publicado um vídeo a apelar aos colegas para se juntarem ao seu protesto. “Perdi o medo há muito. A injustiça dos nossos vencimentos fez-me ganhar coragem”, dizia.

Coletes antibala fora de prazo

Centenas de colegas por todo o país seguiram-lhe o exemplo. Uns têm dormido ao relento, em sacos-cama, como fez Pedro Costa no primeiro dia de vigília, antes de os companheiros lhe terem arranjado uma carrinha para passar as noites defronte do Parlamento. Outros têm-se recusado a pegar em viaturas de serviço que alegam não estarem em condições de circularem.

A mais recente forma de protesto, iniciada este sábado, consiste na recusa em fazer serviços considerados perigosos se os coletes antibala que lhes estão atribuídos não estiverem dentro do prazo de validade. Para a próxima sexta-feira está planeada uma paralisação generalizada. Embora a lei não lhes dê direito à greve, os membros das forças de segurança podem socorrer-se de alguns expedientes para levar a cabo os seus intentos, como alegar que faltam ao serviço por motivo de doença.

“Espero que o Governo não esteja a fazer um braço-de-ferro com os polícias até à última hora, porque pode acontecer alguma desgraça”, antecipa o presidente do Sindicato Nacional de Polícia, Armando Ferreira, sobre os efeitos que poderá ter uma falha generalizada de policiamento.

José Luís Carneiro foi recebido de forma hostil na sua última deslocação oficial. Ontem, numa visita à Escola da Guarda, em Queluz, deparou com militares a envergar T-shirts com letras que formavam a palavra “ilusionista”. Este sábado foi a vez de suceder o mesmo ao primeiro-ministro, no Crato.

Ao sair da viatura em que seguia, cumprimentou representantes das entidades locais e escutou, em sentido, o hino nacional cantado pelos polícias e militares em protesto, não tendo comentado a acção nem cumprimentado as cerca de três dezenas de elementos das forças de segurança presentes. com Ana Henriques

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