Motins e violência fazem pelo menos 16 mortos na Papuásia-Nova Guiné

Centenas de pessoas aproveitaram paralisação e protesto da polícia para pilhar e incendiar lojas na capital e noutros pontos do país insular do Pacífico Sul. Governo declarou estado de emergência.

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Amotinados pilharam lojas e queimaram edifícios em Port Moresby Reuters/LEO MANUAI
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Uma manifestação da polícia e de agentes das forças de segurança da Papuásia-Nova Guiné, na quarta-feira, em frente ao Parlamento, em Port Moresby, provocou uma onda descontrolada de violência, de pilhagens e de vandalismo na capital e noutras zonas do país insular do Pacífico Sul, que, segundo as autoridades locais, já resultaram em pelo menos 16 mortes.

Numa conferência de imprensa realizada esta quinta-feira, o primeiro-ministro papua, James Marape, denunciou uma situação de “anarquia” e declarou estado de emergência, com a duração de 14 dias, apelando aos cidadãos para “respeitarem o país” e para “darem prioridade à paz e à normalidade”.

Explicando que “a ausência de presença policial deu a origem a motins e a pilhagens em algumas zonas” da capital, na quarta-feira, Marape lamentou, citado pela emissora pública australiana ABC, que outros centros urbanos tenham “copiado aquilo que aconteceu em Port Moresby”.

Ainda que a tensão tinha diminuído esta quinta-feira, o primeiro-ministro colocou mais de mil agentes das forças de segurança em prontidão, com ordens para neutralizar qualquer escalada da violência.

O protesto da polícia contra cortes salariais recentes incluiu a paralisação total dos seus serviços às 10h de quarta-feira. Centenas de pessoas decidiram, então, aproveitar a ausência de agentes policiais nas ruas de Port Moresby para assaltar e pilhar estabelecimentos comerciais e a situação evoluiu rapidamente para um motim generalizado em várias ruas da cidade, que incluiu confrontos violentos.

Fotografias e vídeos publicados nas redes sociais e nos sites noticiosos internacionais mostram edifícios e veículos em chamas e multidões a invadir e a vandalizar lojas. O Serviço de Ambulâncias St. John disse que respondeu a pelo menos 40 pedidos de ajuda, na quarta-feira, que incluíram pessoas atingidas por armas de fogo e ferimentos causados por queimaduras.

Esta quinta-feira, a polícia da Papuásia-Nova Guiné informou que nove pessoas morreram em Port Moresby e que outras sete morreram em Lae, a segunda maior cidade papua. A Embaixada da República Popular da China no país da Oceânia disse ainda que dois cidadãos chineses ficaram feridos durante os motins.

O cenário de caos e de instabilidade levou seis deputados a pedir a demissão de cargos que ocupavam no Governo, dizendo que perderam a confiança na liderança do primeiro-ministro. Prevêem-se, por isso, semanas difíceis para Marape, que, no próximo mês, poderá ser alvo de uma moção de censura, uma vez que termina um prazo constitucional que o protege de ver a sua liderança desafiada pelo Parlamento.

Na declaração que fez esta quinta-feira para apelar à calma, o chefe do Governo lembrou que os “investidores” e os “parceiros internacionais” estão a olhar com atenção para o que se está a passar na Papuásia-Nova Guiné e argumentou que o país é “maior do que todos nós”.

Este recado é significativo no contexto do investimento crescente e dos acordos de cooperação que o Governo de Marape assinou nos últimos tempos, nomeadamente com os EUA, e mostra vontade do primeiro-ministro em tentar dissipar as dúvidas possam ter surgido juntos dos seus parceiros sobre a fiabilidade da Papuásia-Nova Guiné enquanto aliado.

Em Maio do ano passado, os governos norte-americano e papua assinaram um novo acordo de Defesa, que vai ajudar a mais populosa nação das ilhas do Pacífico a expandir as suas capacidades defensivas e de patrulhamento marítimo e facilitar a realização de exercícios conjuntos e de sessões de treino da Marinha dos EUA às autoridades locais.

Este acordo foi visto como uma resposta directa dos EUA ao pacto securitário que as vizinhas ilhas Salomão assinaram com a China e insere-se na cada vez mais intensa competição que as duas maiores potências do mundo estão a travar pela influência no Pacífico Sul.

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