Primeira-ministra francesa apresenta demissão, Macron prepara remodelação

Renúncia associada a remodelação governamental que vai ser anunciada pelo Presidente francês. Sem maioria na Assembleia, Governo de Borne teve dificuldades em implementar o programa de Macron.

Foto
Borne assumiu o cargo de primeira-ministra em Maio de 2022 Reuters/SARAH MEYSSONNIER
Ouça este artigo
00:00
03:51

A primeira-ministra de França, Elisabeth Borne, apresentou esta segunda-feira a demissão, menos de dois anos depois de ter aceitado chefiar o Governo. Segundo a imprensa francesa, a renúncia está relacionada com uma remodelação iminente no Governo do país, promovida pelo Presidente, Emmanuel Macron, para dar novo ímpeto à governação e ao seu mandato.

Fontes próximas de Macron disseram ao jornal Le Monde e à agência noticiosa AFP que o nome do próximo primeiro-ministro francês será conhecido na terça-feira de manhã. Segundo o Palácio do Eliseu, Borne manter-se-á no cargo até ser nomeado formalmente um sucessor.

Gabriel Attal, actual ministro da Educação, e Sebastian Lecornu, ministro da Defesa, são os nomes apontados pelos media franceses como principais candidatos à sucessão. Com 34 e 37 anos respectivamente, um ou outro podem vir a ser o primeiro-ministro mais jovem de sempre em França. Bruno Le Maire, ministro das Finanças, e Julien Denormandie, ex-ministro da Agricultura, são outras hipóteses em cima da mesa.

Na carta que endereçou a Macron a formalizar o pedido de demissão, citada pela AFP, em que notou existir “vontade” do Presidente de “nomear um novo primeiro-ministro”, Borne sublinhou o “quão apaixonada” sempre esteve com a “missão” de liderar o executivo e, “guiada pela preocupação constante” de “alcançar resultados rápidos e tangíveis” para os cidadãos, defendeu que é “mais necessário que nunca continuar as reformas”.

Numa mensagem publicada no X (antigo Twitter), Macron agradeceu a Borne pelo seu serviço “exemplar” e por ter implementado o projecto político do Governo com “a coragem, o compromisso e a determinação das mulheres de Estado”.

A saída de cena de Borne acontece num período de enorme desgaste para o executivo e para o Presidente de França, à boleia do debate que culminou no endurecimento das leis de imigração – visto como uma cedência do Governo à extrema-direita –, no final do ano, e da aprovação da controversa reforma do sistema de pensões francês, em Março, por decreto presidencial, que aumentou a idade legal da reforma dos 62 para os 64 anos até 2030 e que provocou uma onda de protestos contra Macron.

Em ano de Jogos Olímpicos em Paris e, principalmente, de eleições para o Parlamento Europeu, o Presidente francês quer oferecer um balão de oxigénio ao Governo e à sua própria liderança, numa altura em que a União Nacional, de Marine Le Pen, lidera as sondagens, com uma vantagem entre os oito e os dez pontos percentuais sobre o Renascimento, de Macron.

Actualmente com 62 anos, Borne foi apenas a segunda mulher a liderar um executivo em França. Com experiência acumulada em vários cargos ministeriais em governos do antigo República em Marcha (actual Renascimento) e como assessora de diversos dirigentes do Partido Socialista, a primeira-ministra demissionária teve muitas dificuldades em implementar o programa do Presidente, uma vez que o partido centrista de Macron perdeu a maioria absoluta na Assembleia Nacional nas legislativas de Junho de 2022.

Mathilde Panot, líder do grupo parlamentar da França Insubmissa, de esquerda, já veio prometer, através de uma mensagem publicada no X, a apresentação de uma moção de censura ao Governo remodelado por Macron se este não se submeter a uma moção de confiança na Assembleia.

Numa entrevista com o PÚBLICO, em Outubro de 2022, Elisabeth Borne criticou a França Insubmissa, da NUPES, na sequência do apoio da extrema-direita a uma moção de censura apresentada por aquela coligação de esquerdas.

“É muito chocante o que se passou. Alguns líderes da esquerda, nomeadamente d'A França Insubmissa, regozijaram-se de ter o apoio da União Nacional e o que mostra é que para esse partido de esquerda – eu não os coloco a todos no mesmo saco –, é que dentro da aliança NUPES há quem esteja disposto a tudo para fazer cair o Governo, incluindo abdicar dos seus valores”, atirou.

A France 24 diz que a remodelação governamental que vai ser anunciada nas próximas horas também pode ser um momento importante para aqueles que, dentro do campo político-partidário do Renascimento, aspiram ao lugar de Macron e a uma candidatura às eleições presidenciais de 2027 – provavelmente (e novamente) contra Le Pen.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários