Carol, o fim do mundo e a busca pela banalidade

Carol & the End of the World é uma nova série animada Netflix sobre uma mulher de 40 e poucos que, num mundo pré-apocalíptico, só quer normalidade.

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É o fim do mundo, mas há quem queira passá-lo a trabalhar DR
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O mundo está a acabar. Um planeta está a dirigir-se para a terra, o que fará com que a vida no nosso planeta deixe de acontecer. Falta menos de um ano para isso. Tendo em conta o que aí vem, uma boa parte da população mundial decide fazer o que ainda não foi feito: descobrir novas paixões, dar a volta ao mundo, desistir dos empregos sem sentido, aprender o que ainda não sabe, etc. Mas não toda a gente. Carol Kohl, uma mulher de 42 anos, não quer nada descobrir o desconhecido. Os pais dela tornaram-se nudistas e entraram numa relação a três com o cuidador do pai. A irmã dela anda a dar a volta ao mundo. Está tudo preocupado com ela por não ter feito grandes mudanças e ela mente aos pais a dizer que começou a fazer surf, só para não a chatearem. Mas surf é algo demasiado ambicioso e disruptivo para ela, que só quer uma vida normal, banal, feita de rotinas. Ainda é possível?

É esta a premissa de Carol & the End of the World, uma série de animação Netflix criada por Dan Guterman. Guterman tem no currículo, além de prémios Emmy pelo trabalho em The Colbert Report e Rick & Morty, uma passagem pelo jornal satírico The Onion, feito de notícias falsas e uma enorme melancolia e existencialismo hilariantes — que falham sempre aos seus inúmeros imitadores — que transitam para aqui. Estreou-se a meio de Dezembro.

A história passa-se na viragem do milénio, quando os televisores eram mais modestos e ainda não havia redes sociais. Neste mundo, supermercados são geridos pelo Exército, vários serviços deixaram de funcionar e produtos escasseiam, mas ainda há alguns transportes, electricidade, etc. Um dia, Carol vê uma pessoa a ir trabalhar e decide segui-la. É assim que encontra, num andar alto de um edifício, um escritório cheio de gente a fazer trabalhos administrativos. Encontra, finalmente, uma maneira de reconquistar a banalidade que tanto almeja. Ao longo dos dez episódios, vamos vendo o seu mundo familiar, a sua nova vida laboral — sem se perceber bem o que é que estão ali as pessoas a fazer — e as aventuras e desventuras neste universo pré-apocalíptico. São histórias bastante mais variadas do que a ideia de elogiar a vida e as chatas rotinas mundanas pode parecer sugerir. As personagens são tratadas com humanidade e carinho, e há muito de tocante por aqui.

A voz de Carol é da cómica Martha Kelly, que faz stand-up e, como actriz, começou a fazer-se notar na série Baskets, tendo sido nomeada para um Emmy há dois anos por um papel em Euphoria. A inexpressividade de Kelly assenta como uma luva na personagem pouco ambiciosa, aborrecida para os padrões dos outros, etc. A acompanhá-la estão vozes como as de Beth Grant, Kimberly Hébert Gregory, Michael Chernus, Mel Rodriguez ou Bridget Everett — os desenhos dos bonecos vão buscar muitas coisas aos actores que lhes dão as vozes, o que é particularmente óbvio no caso destes dois últimos. Há também uma lista infindável de convidados, de Stephen Colbert ao cantautor Loudon Wainwright III.

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