Secretário da Defesa dos EUA está internado, mas o Pentágono manteve segredo durante vários dias

Presidente Joe Biden também só soube dias depois. Lloyd Austin assume culpa pela forma como geriu a informação. “Mantém as piores tradições de ocultação e opacidade”, diz organização de jornalistas.

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Lloyd Austin, que tem 70 anos, foi internado no dia de Ano Novo no Walter Reed National Military Medical Center PRESIDENTIAL PRESS SERVICE HANDOUT/EPA

O Secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmou num comunicado de sábado que assume "total responsabilidade" pelo secretismo em torno da sua hospitalização por uma semana devido a um problema de saúde ainda não especificado.

Austin, que tem 70 anos, foi internado no dia de Ano Novo no Walter Reed National Military Medical Center devido ao que o Pentágono afirmou serem "complicações na sequência de um recente procedimento médico electivo", um facto que o Departamento da Defesa manteve em segredo durante cinco dias.

O senador Roger Wicker, o principal membro republicano da Comissão de Forças Armadas do Senado norte-americano, acusou o Pentágono de não ter informado imediatamente o Congresso sobre este assunto, tal como exigido por lei.

Mas não é claro até que ponto a informação foi partilhada, mesmo dentro da Administração do Presidente Joe Biden. Um membro do Governo, falando sob condição de anonimato, disse que Biden só foi informado na quinta-feira à noite. Ainda assim, Biden mantém a confiança em Austin e os dois falaram no sábado à noite, disse um outro membro da Administração.

Austin, o primeiro afro-americano no cargo, situa-se a seguir a Biden no topo da cadeia de comando das Forças Armadas dos EUA e as suas funções exigem que esteja disponível a qualquer momento para responder a qualquer tipo de crise de segurança nacional.

Não é claro até que ponto as suas funções foram delegadas na sua adjunta, Kathleen Hicks, ou se Austin esteve envolvido em decisões importantes durante a sua ausência.

O Pentágono ainda não explicou por que razão Austin está a ser tratado, se perdeu a consciência durante a semana passada ou se deu pormenores sobre quando poderá ter alta do hospital.

"Reconheço que poderia ter feito um trabalho melhor para garantir que o público fosse devidamente informado. Comprometo-me a fazer melhor", afirmou Austin numa declaração escrita.

"No entanto, é importante dizer o seguinte: este era o meu procedimento médico e assumo total responsabilidade pelas minhas decisões sobre a divulgação".

Para Wicker, o episódio minou ainda mais a confiança do público na Administração Biden, citando falhas passadas na divulgação rápida de informações sobre incidentes de segurança nacional, incluindo o aparecimento de um balão espião chinês sobre os EUA no ano passado.

"Quando uma das duas autoridades de comando nacional do país é incapaz de desempenhar as suas funções, as famílias dos militares, os membros do Congresso e o público americano merecem saber as circunstâncias em toda a sua extensão ", disse Wicker em comunicado.

Um porta-voz afirmou no sábado que Austin retomou todas as suas funções na sexta-feira à noite, mas permaneceu no hospital.

A Associação de Imprensa do Pentágono, numa carta dirigida aos funcionários do Pentágono na sexta-feira à noite, criticou o secretismo do Departamento de Defesa, dizendo que Austin era uma figura pública que não tinha direito a privacidade médica numa situação destas.

A associação também observou que até mesmo os presidentes dos EUA divulgam a informação quando precisam delegar funções devido a procedimentos médicos.

"Numa altura em que existem ameaças crescentes aos membros do serviço militar dos EUA no Médio Oriente e em que os EUA desempenham um papel fundamental na segurança nacional nas guerras em Israel e na Ucrânia, é particularmente importante que o público americano seja informado sobre o estado de saúde e a capacidade de decisão do seu principal líder de defesa", escreveu a associação.

Phil Stewart, o correspondente da Reuters que co-assina este artigo é membro do conselho de administração da associação.

A Military Reporters and Editors (MRE), uma organização sem fins lucrativos para jornalistas que cobrem as Forças Armadas dos EUA, comentou que a decisão de divulgar a informação apenas numa sexta-feira à noite, quando o número de leitores online é habitualmente menor, "mantém as piores tradições de ocultação e opacidade".

"Isto é uma violação da intenção e do espírito dos Princípios de Informação do Pentágono e não cumpre as normas de divulgação pública sobre os altos funcionários do Governo incapazes de exercer as suas funções", refere a organização em comunicado. Reuters

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