Avião da Japan Airlines que colidiu com aeronave da Guarda Costeira foi autorizado a aterrar

Avião que colidiu com aeronave da Guarda Costeira teve autorização para aterrar. Polícia prepara-se para investigar se o acidente envolveu negligência profissional. Cinco pessoas morreram.

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Bombeiros demoraram várias horas a extinguir as chamas que engoliram o avião que se incendiou no Aeroporto de Haneda, em Tóquio Reuters/KYODO
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O avião da Japan Airlines (JAL) que se incendiou na pista do Aeroporto de Haneda, em Tóquio, após colidir com uma aeronave da Guarda Costeira teve autorização para aterrar, avançou a companhia aérea, enquanto a polícia se prepara para investigar se o acidente envolveu negligência profissional.

Cinco das seis pessoas que estavam dentro da aeronave da Guarda Costeira morreram no acidente desta terça-feira, mas todos os 379 passageiros e tripulantes que se encontravam no avião da Japan Airlines escaparam em segurança através de escorregas de emergência minutos antes de este ser engolido pelas chamas.

"Segundo o que sabemos, esta [autorização] foi concedida”, disseram altos-funcionários da companhia área quando questionados, durante uma conferência de imprensa, se o voo da Japan Airlines tinha obtido permissão para aterrar por parte do controlo de tráfego aéreo.

JIJI PRESS LUSA
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No entanto, segundo o The Guardian, tanto a companhia aérea como o Governo japonês se recusaram a comentar directamente as trocas de informação entre os controladores aéreos e os dois aviões, dizendo que a investigação está em curso e que já estão a ser analisados os destroços carbonizados do avião.

Numa gravação da torre de controlo do aeroporto de Haneda, a que o jornal britânico teve acesso, aparentemente feita momentos antes da colisão e disponível num site que transmite sinais de tráfego aéreo ao vivo, uma voz aconselha o voo da JAL a “continuar a aproximação”.

Rapidez da tripulação salvou centenas de vidas

Enquanto especialistas em aviação tentam perceber como é que um Bombardier DHC8-300 da Guarda Costeira estava na pista onde ia aterrar o Airbus A350, a tripulação que conseguiu retirar mais de 300 passageiros em menos de dois minutos de um avião em chamas tem sido elogiada pelo sangue-frio, que evitou um enorme desastre.

Peritos ouvidos pela CNN Internacional dizem que o sucesso da evacuação se deve a uma combinação de padrões de segurança modernos e da própria cultura de segurança rigorosa da Japan Airlines.

“Pelo que vi nas imagens, fiquei surpreendido e aliviado por todos terem saído”, diz Graham Braithwaite, professor de Segurança e Investigação de Acidentes na Universidade Cranfield, no Reino Unido. “É um impacto muito severo para qualquer aeronave suportar. Mas sabendo o que sei sobre aquela companhia aérea e o esforço que colocam na segurança e no treino da tripulação, o facto de terem feito um trabalho tão bom não deveria ser uma surpresa tão grande.”

Terá sido um acidente catastrófico que ocorreu há quase 40 anos (e as lições retiradas de outros acidentes de outras companhias aéreas) que ajudou a transformar a Japan Airlines numa companhia aérea tão segura. Em 1985, 520 pessoas morreram num acidente com um Boeing 747 que fazia o percurso Tóquio-Osaca, tendo-se despenhado na região montanhosa de Takamagahara. O acidente foi causado por uma reparação defeituosa feita por técnicos da Boeing — e não da companhia aérea.

Passageiros acabados de sair do avião da Japan Airlines ISSEI KATO / REUTERS
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Passageiros acabados de sair do avião da Japan Airlines ISSEI KATO / REUTERS

Mas Braithwaite diz que este acidente teve um "efeito profundo na companhia aérea". Em 2005, percebendo que muitos funcionários que entravam na empresa não se lembravam do acidente ocorrido em 1985, a JAL abriu um espaço na sede corporativa para exibir partes dos destroços, além de histórias dos tripulantes e passageiros.

“Eles têm uma cultura muito rígida em relação aos procedimentos operacionais-padrão e em fazer tudo correctamente”, diz ainda o especialista. E embora ainda não se saiba a causa do acidente desta terça-feira, Braithwaite refere que a evacuação bem-sucedida é “absolutamente” positiva para a Japan Airlines.

Além disso, a natureza robusta das aeronaves modernas e o treino dos pilotos para lidar com situações anormais evoluíram ao longo das últimas décadas. “Os procedimentos foram refinados à medida que as aeronaves ficaram maiores, para que todos os passageiros possam ser retirados em 90 segundos. Os comissários de bordo de algumas companhias aéreas também podem iniciar uma evacuação em situações claramente catastróficas, economizando segundos vitais ao não esperar que o capitão a inicie", aponta ainda Braithwaite.

Um terceiro factor que ajudou a que a evacuação fosse concluída em poucos minutos foi o facto de os mais de 300 passageiros não terem começado a pegar nas suas bagagens num momento de pânico.

Durante a colisão das duas aeronaves, o avião da Japan Airlines foi engolido pelas chamas, mas não explodiu com o impacto. No entanto, o fogo espalhou-se rapidamente por todo o avião e os bombeiros demoraram cerca de seis horas a extinguir o incêndio.

A quantidade relativamente baixa de combustível que o avião carregava ao aterrar pode ter minimizado a intensidade do incêndio e evitado uma explosão, segundo aponta ao The Guardian Sonya Brown, professora de Design Aeroespacial na Escola de Engenharia Mecânica e de Manufactura da Universidade de Nova Gales do Sul.

“Vemos isto em muitos incêndios, demora muito tempo até ficarem sob controlo porque não existem só os materiais dos aviões, há baterias, sistemas eléctricos, bagagens e cargas que podem conter qualquer coisa”, disse Brown.

No momento do acidente, a Guarda Costeira referiu que a sua aeronave se dirigia para Niigata, na costa ocidental do Japão, para prestar ajuda às vítimas do forte terramoto que atingiu o país no dia de Ano Novo, matando pelo menos 62 pessoas.

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