Taxa de pobreza aumenta 40% na Líbia

Relatório preliminar de 2023 explica a variação com a subida da inflação, com o aumento do custo dos alimentos, dos serviços básicos e dos cuidados de saúde e com a desvalorização da moeda.

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Aisha, de 51 anos, perdeu cinco familiares na inundação de Derna ZOHRA BENSEMRA/Reuters
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O nível de pobreza na Líbia aumentou 40% em 2023, de acordo com um relatório preliminar da Autoridade de Estatísticas e Censo do país, anunciou a Instituição Nacional dos Direitos Humanos na Líbia (INDHL). A economia, que já vinha sofrendo as mazelas da pandemia de covid-19, viu-se ainda mais afectada pela guerra na Ucrânia e pelos efeitos das alterações climáticas, explica a INDHL em comunicado citado pela agência líbia de notícias Lana.

De acordo com os resultados preliminares do inquérito exaustivo sobre o rendimento e as despesas dos agregados familiares de 2023, esta subida substancial da taxa de pobreza está ligada a numerosos factores, mas um dos principais prende-se com a forte desvalorização da moeda líbia. O dinar tem vindo a perder valor face às divisas estrangeiras, nomeadamente o dólar, nos últimos meses e isso tem feito aumentar os preços dos alimentos e dos serviços básicos.

Segundo a INDHL, a subida dos preços teve um forte impacto nas famílias de menores recursos, especialmente entre os mais vulneráveis, como deficientes, órfãos, viúvas e desempregados – a taxa de desemprego também aumentou.

Desde 2011, a Líbia vive em conflito e numa situação de fragmentação política e social que divide o país e afecta os serviços básicos e as infra-estruturas nacionais (a destruição parcial da cidade de Derna pelo rebentamento de duas barragens em Setembro é um exemplo da falta de investimento nas infra-estruturas). Um exemplo do impacto dessa divisão está no sector petrolífero (a Líbia tem as maiores reservas do mundo), principal contribuidor para o produto interno bruto e principal fonte de receita para o governo em Trípoli (cerca de 90% do orçamento).

Na semana passada, a National Oil Corporation, a petrolífera nacional, anunciou em comunicado, citado pela agência de notícias turca Anadolu, perdas acumuladas de quase seis mil milhões de dólares (mais de 5,4 mil milhões de euros) nos últimos cinco meses por causa do fecho e dos bloqueios de poços de petróleos impostos pelos rebeldes liderados por Khalifa Haftar, senhor da guerra que controla o leste do país.

O Governo reconhecido internacionalmente tem estado sob ataque das forças de Haftar desde Abril de 2019, com mais de um milhar de mortos devido aos combates.

Perante tantas adversidades desde a queda de Muammar Khadafi, com dois governos, um em Trípoli e outro em Tobruk, nenhum deles legitimado pela população, e a fragmentação do poder por várias facções armadas, pejadas de mercenários, incluindo os paramilitares russos do grupo Wagner, o futuro da Líbia parece incerto e turbulento.

“No meio do recrudescimento da corrupção, da migração ilegal, da fragilidade económica e da incerteza, a maior parte dos actores líbios está a tentar reforçar as suas redes políticas, de segurança e de clientelismo”, escreveu Jonathan Winer, enviado especial dos Estados Unidos para a Líbia, num artigo publicado pelo Middle East Institute. Além disso, acrescenta, Haftar “está a apostar na sua relação com a Rússia como uma das chaves dos seus esforços para assegurar ainda mais poder”.

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