“Razia”: Global Media suspende programas de opinião na TSF

Conselho de redacção condena “processo de autodestruição da rádio que está a ser levado a cabo pela administração”. Programas como Bloco Central e Café Duplo estão suspensos.

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pbc pedro cunha
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Estão “em pausa” todos os programas da TSF com participação de colaboradores externos à rádio, “por indicação da administração”, numa decisão que abrange “todos os espaços de opinião e análise política diária nas manhãs”, bem como os programas Café Duplo, Não Alinhados e Bloco Central. Mantém-se, no entanto, a emissão do Fórum TSF. A informação consta da acta do conselho de redacção da TSF, reunido esta sexta-feira, a que o PÚBLICO teve acesso.

“A somar à razia entre os trabalhadores, junta-se agora uma razia na antena”, lamenta o conselho de redacção, referindo-se ao anunciado despedimento de 30 trabalhadores da TSF, que levou entretanto à demissão em bloco da direcção de informação liderada por Rosália Amorim.

A TSF é detida pelo grupo Global Media, proprietário de outros órgãos de comunicação social como o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias e O Jogo, entre outros títulos também a braços com despedimentos que envolverão, no total, cerca de 200 trabalhadores.

Na quinta-feira, o PÚBLICO pediu informações à Global Media sobre a então possível suspensão dos programas de opinião da TSF, tendo o grupo remetido esclarecimentos para a direcção de informação da rádio. Esta sexta-feira, Pedro Marques Lopes, que fazia dupla actualmente com Pedro Siza Vieira no Bloco Central, publicou uma nota de despedida do programa nas redes sociais.

Na acta do conselho de redacção desta sexta-feira lê-se que a “pausa” dos programas visados é justificada pela administração com “a entrada de uma nova direcção" na TSF para “breve". No entanto, o conselho de direcção entende que a referida pausa “não passa de um eufemismo para retirados da antena”.

“Nunca a TSF esvaziou a programação antes da entrada de uma nova direcção e muito menos por decisão imposta pela administração, no caso, a uma direcção demissionária”, declara o conselho de redacção. “Esta decisão editorial determinada pela administração choca frontalmente com todos os princípios pelos quais um órgão de comunicação social deve reger-se numa sociedade democrática”, continua.

Administração acusada de "pretender assumir o controlo editorial da TSF"

“As decisões editoriais - como sucedeu sempre na TSF - são responsabilidade da direcção com o respectivo pelouro. Não é admissível uma ingerência da administração que, tal como esta, coloca em causa a liberdade de acção de uma direcção que, embora demissionária desde o dia 12 de Dezembro, não fica com as suas capacidades editoriais eliminadas”, prossegue a acta, que sublinha que a direcção demissionária discorda da decisão da administração “primeiro por uma questão de princípio e liberdade e, segundo, pelo contexto editorial de actualidade política e económica que o país vive”.

“Para lá de um assustador empobrecimento da antena, a questão inaceitável que tudo isto levanta é o facto de, neste interregno entre direcções, ser a administração da GMG (Global Media Group) a pretender assumir o controlo editorial da TSF”, denunciam os jornalistas.

“Os membros eleitos do CR (conselho de redacção) não podem deixar de denunciar o perigo que representa esta intromissão na área editorial, não apenas por aquilo que está a acontecer, mas por aquilo que indicia que possa vir a suceder. Nada garante que, por esta forma ou outra, a ingerência não continue no futuro”, alerta o conselho de redacção.

“Como se não bastassem as declarações públicas do CEO de constante desvalorização da marca - o que já está a provocar da parte de potenciais patrocinadores hesitações, senão mesmo recuos, em anunciar na TSF - , agora surge esta decisão, com contornos surreais, de retirar a esmagadora maioria das mais valias da antena substituindo-as por nada, não se sabe durante quanto tempo”, lê-se.

“É assim, com enorme preocupação e indignação, que os membros eleitos do CR constatam aquilo que pode definir-se como um processo de autodestruição da rádio que está a ser levado a cabo pela administração. Logo, não podem deixar de condenar expressamente a ingerência da administração que se tem processado. Estamos já a atravessar o período mais crítico da história da TSF. Se dúvidas houvesse sobre a ameaça à extinção do projecto editorial de 35 anos, depois deste acto sobre a programação não há margem para qualquer incerteza”, remata o documento.

Parlamento quer ouvir Global Media sobre situação no grupo

Na quarta-feira, a Assembleia da República aprovou por unanimidade as audições do conselho de administração da Global Media, do empresário Marco Galinha e do ex-director da TSF, Domingos Andrade, sobre a situação do grupo de comunicação social e o despedimento de duas centenas de trabalhadores.

Foi no início de Dezembro que a comissão executiva da Global Media, liderada por José Paulo Fafe, anunciou a abertura de negociações para a rescisão com 150 a 200 trabalhadores e um plano de reestruturação destinado a evitar "a mais do que previsível falência do grupo". O programa de rescisões voluntárias, que terminava inicialmente esta semana, foi prolongado até ao início de Janeiro.

Desde então, demitiram-se membros das direcções da TSF, Jornal de Notícias, O Jogo e Dinheiro Vivo, e foram realizadas várias acções de protestos dos trabalhadores dos vários órgãos do grupo. Paralelamente, o Sindicato dos Jornalistas solicitou à Inspectora-Geral da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) a averiguação de "várias irregularidades" no grupo.

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