Êxodo dos professores de Enfermagem é o movimento profissional no sistema binário

A opção por um local para leccionar não se deve resumir às melhores condições remuneratórias, mas considerar também a matriz identitária das instituições.

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É reconhecido o envelhecimento da população portuguesa, dos professores em geral e dos professores de Enfermagem em particular. À reconfiguração profissional dos professores, por mecanismos de aposentação e contratação, associam-se os movimentos de recomposição profissional, por concurso público para professor adjunto e coordenador ou para professor auxiliar ou associado, nos estabelecimentos de ensino públicos, particulares e na Universidade Católica Portuguesa.

A maior oferta gera procura e um movimento de professores entre as várias tipologias de estabelecimentos de ensino: os institutos superiores politécnicos, com maior expressão no país, as escolas superiores de Enfermagem não integradas, com maior movimento de professores, e as universidades onde o ensino de Enfermagem é ministrado, apesar da ancoragem à alínea e) do decreto-lei n.º 480/88, do conhecimento de todos, no âmbito politécnico para os 1.º e 2.º ciclo de estudos (licenciatura e mestrados) e no âmbito universitário para o 3.º ciclo (doutoramento).

Os professores de Enfermagem, com dedicação e conhecimento disciplinar, são faróis de conhecimento e prática na área da saúde. A sua paixão pela profissão não apenas molda a identidade dos futuros enfermeiros, mas também contribui significativamente para a sociedade através da investigação inovadora e prestação de cuidados de saúde de alta qualidade. Estes docentes não só ensinam habilidades técnicas, mas também infundem valores de compaixão, ética e humanidade nos cuidados de saúde. A sua influência estende-se além das salas de aula e da clínica, tocando a vida de inúmeras pessoas e famílias e elevando a qualidade dos cuidados de saúde em Portugal.

Além disso, a investigação em Enfermagem, realizada por estes professores, é fundamental para o avanço da saúde e para a melhoria do próprio sistema de saúde, pois não apenas enriquecem o corpus de conhecimento na área científica, mas também têm um impacto prático, melhorando os procedimentos de cuidados e a eficácia das intervenções clínicas, onde os desafios são cada vez mais complexos. A competência dos professores de Enfermagem na investigação é um pilar crucial para garantir uma sociedade saudável e resiliente.

O movimento oscilatório de saída de professores, por aposentação ou por concurso público, para outras instituições, tem promovido a reconfiguração das equipas desde 2022, com a contratação de jovens professores doutorados que possuem já uma cultura de investigação sólida, ou de professores com maior lastro na docência, que optam pela progressão na carreira.

A academia renova-se anualmente com a devolução à sociedade de novos licenciados, mestres e doutores em Enfermagem e com a integração de novos estudantes, professores e investigadores.

Nestes movimentos profissionais oscilatórios questionamos a sua justificação entre a procura de melhores condições de trabalho e o posicionamento face ao debate da atualidade entre o ensino politécnico e o universitário para a disciplina de Enfermagem, nos três ciclos de estudos.

Será que estes professores se demarcam, na diversidade do sistema, ao nortearem o direcionamento do seu itinerário profissional, ora para institutos politécnicos, ora para escolas não integradas, ora para universidades?

Na opção por um curso superior, ou na preferência do local para exercer a profissão de professor, as escolhas não se devem resumir às melhores condições remuneratórios, mas à matriz identitária das referidas instituições com as quais os professores e estudantes se identificam.

Ao considerarmos que cerca de metade dos jovens portugueses (49%) entre os 14 e os 30 anos de idade são católicos, de acordo com estudo “Jovens, Fé e Futuro”, realizado pelo Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP), da Universidade Católica Portuguesa (UCP), questionamos se uma educação católica estará disponível para todos os que a professam? No recente discurso do Santo Padre aos jovens universitários na Universidade Católica Portuguesa, aquando das JMJ, ouvimos: “Vós sois a geração que pode vencer este desafio: tendes instrumentos científicos e tecnológicos mais avançados, mas, por favor, não vos deixeis cair na cilada de visões parciais”.

Importa retomar o pensamento de Sousa Franco, ao defender que uma Educação livre e inclusiva de todos os credos e culturas só seria possível quando pais, educadores, estudantes e professores pudessem optar por um determinado estabelecimento de ensino, independentemente do custo das propinas e/ou da expressão remuneratória dos professores, mas considerando a identidade, a missão e os valores dos estabelecimentos onde se inscrevem.

Neste movimento social dos professores entre as várias tipologias de estabelecimentos de ensino atrás descritos, eles próprios oscilam também entre duas carreias de ensino superior: a carreira politécnica e a universitária. Independentemente destas carreiras profissionais, no sistema binário, terem o mesmo valor social, pese embora uma representação social diferente, podem revelar o posicionamento dos professores no itinerário educativo que vislumbram para o futuro do ensino de Enfermagem!

Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico

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