Cientistas criaram roupa que usa energia solar para aquecer ou refrescar o corpo

Equipa da Universidade de Nankai, na China, criou um dispositivo flexível que permite ao organismo humano adaptar-se dinamicamente às mudanças na temperatura ambiente, anuncia a revista Science.

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Cientistas desenvolveram uma tecnologia vestível, alimentada a luz solar, que permite ao corpo humano adaptar-se a temperaturas extremas REUTERS/Eric Miller
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Cientistas criaram uma “roupa” com um sistema que permite, recorrendo unicamente à energia solar, não só aquecer o corpo humano, quando faz frio, mas também refrescá-lo, se a temperatura ambiente subir. Esta novidade tecnológica é descrita num estudo publicado, esta quinta-feira, na revista científica Science.

O novo sistema pode permitir que o organismo humano se adapte dinamicamente às mudanças na temperatura ambiente. Os autores acreditam que, entre as possíveis aplicações, está o uso dessas roupas tecnológicas para facilitar a sobrevivência humana em ambientes demasiado inóspitos, onde as temperaturas podem flutuar rapidamente. É o caso das regiões polares e desérticas, ou até mesmo de missões espaciais tripuladas.

“Nós desenvolvemos um sistema avançado de termorregulação, auto-alimentado e que dá para vestir, que conjuga um módulo fotovoltaico flexível com unidades electrocalóricas para uma termorregulação personalizada e eficiente”, escrevem os autores do estudo da Science, uma equipa de nove investigadores da Universidade de Nankai, na China.

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Desde a descoberta de certos polímeros ferroeléctricos, a comunidade científica avançou muito no desenvolvimento de dispositivos electrocalóricos. O efeito electrocalórico consiste na resposta térmica de um material associada à acção de um campo magnético ou eléctrico. Assim, os objectos que são considerados electrocalóricos apresentam uma temperatura reversível, podendo alternar entre o modo quente e o frio.

“Contudo, a fonte de energia para accionar um dispositivo electrocalórico normalmente usa electricidade da rede e a estrutura do dispositivo pode ser grande, limitando assim a sua integração na roupa. Além disso, um aparelho electrocalórico que vai ser ‘vestido’ deve ser flexível”, escrevem Xingyi Huang e Pengli Li numa análise publicada na mesma edição da Science.

Xingyi Huang e Pengli Li explicam que os cientistas da Universidade de Nankai levaram em conta esses três desafios – fonte de energia, estrutura e flexibilidade – ao desenvolver o novo sistema de termorregulação. Isto foi possível integrando uma unidade fotovoltaica orgânica e uma unidade electrocalórica num só dispositivo flexível.

“O novo dispositivo poderá ajudar a garantir a segurança e o conforto do corpo humano face às flutuações das temperaturas ambientais e até ampliar a capacidade de sobrevivência em ambientes extremos, como os do espaço sideral ou de outros planetas”, referem Xingyi Huang e Pengli Li.

Por ser simultaneamente pequeno e flexível, o dispositivo proposto pela equipa chinesa pode ser integrado em roupas convencionais. Nas imagens que acompanham o artigo da Science, vemos a tecnologia incorporada em peças de vestuário com aspecto futurista, assemelhando-se uma delas a um fato de astronauta.

Outro aspecto distintivo é a auto-alimentação: o sistema recorre unicamente à energia solar, nenhuma outra fonte é necessária. Segundo os autores, o dispositivo consegue manter a temperatura da pele humana dentro de uma zona de conforto térmico entre 32 e 36 graus Celsius, num contexto em que temperatura ambiente oscila entre 12,5 e 37,6 graus Celsius.

“A alta eficiência do dispositivo permite 24 horas de termorregulação controlável com apenas 12 horas de entrada de energia solar”, lê-se numa nota de imprensa da revista Science.

“É possível imaginar um futuro de gestão térmica em todas as condições meteorológicas que não seja limitado por um fornecimento de energia, no qual a energia adicional armazenada possa até alimentar dispositivos electrónicos em condições especiais”, estimam Xingyi Huang e Pengli Li.

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