Ecólogos querem ser ouvidos na gestão de zonas protegidas

O Instituto da Conservação da Natureza e a Direcção-Geral de Recursos Naturais manifestaram a intenção de “desenvolver parcerias” com especialistas, diz a Sociedade Portuguesa de Ecologia.

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Ecólogos querem ser envolvidos em decisões que podem condicionar a distribuição de painéis solares em terra e turbinas eólicas no mar Adriano Miranda
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Tanto o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) como a Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos manifestaram a intenção de “desenvolver parcerias com a comunidade académica para definir critérios de gestão de zonas protegidas”, refere um comunicado da Sociedade Portuguesa de Ecologia (Speco).

A bióloga Maria Amélia Martins Loução, presidente da Speco, vê como “positivo” o facto de José Simão, que lidera a Direcção-Geral de Recursos Naturais, e Carlos Albuquerque, director do Departamento de Conservação da Natureza e da Biodiversidade do ICNF, manifestarem “publicamente” este desejo de envolver os cientistas em decisões que podem condicionar, por exemplo, a distribuição de painéis solares em terra e turbinas eólicas no mar.

Para a Speco, “a aposta em energias renováveis não pode, nem deve pôr em risco a perda de biodiversidade”. E, por isso mesmo, as parcerias entre entidades públicas e a comunidade científica são vistas pelos ecólogos como “especialmente importantes num contexto em que aumentam as pressões sobre o território, a nível local e nacional”.

“Quando estamos doentes, ouvimos os médicos antes de tomar decisões importantes. Ora, o mesmo deveria acontecer na definição de critérios de gestão de áreas terrestres e marinhas. É dada muitas vezes a palavra a pessoas que não são especialistas e isso tem de começar a mudar”, explica ao PÚBLICO Maria Amélia Martins Loução.

De acordo com a nota de imprensa da Speco, José Simão e Carlos Albuquerque “manifestaram publicamente a intenção de trabalhar com a comunidade académica na definição de critérios e metodologias de gestão e de monitorização de áreas de conservação da natureza, terrestres e marinhas”.

“Hoje não concebo fazer áreas protegidas em terra ou no mar, assim como atingir as metas de protecção, sem ciência cidadã, sem envolvimento das comunidades e da academia”, afirmou ao PÚBLICO Carlos Albuquerque. O responsável explicou que existem mecanismos financeiros e linhas de apoio que permitem “encomendar à academia trabalhos específicos” para conseguir “consolidar” algumas das “informações relevantes” nestes processos.

As declarações de responsáveis do ICNF e da DGRM foram proferidas, refere o documento, durante uma mesa-redonda sobre a conservação da biodiversidade no âmbito da meta 30x30 no 22.º Encontro Nacional de Ecologia, que decorreu na Universidade do Algarve de 22 a 25 de Novembro.

O encontro incluiu um debate sobre o estado actual da conservação da natureza em Portugal, incluindo os critérios para atingir as metas de conservação estabelecidas por Portugal. Os especialistas afirmam no documento haver não só uma “falta de atenção, por parte das autoridades, aos avanços científicos conseguidos pelos ecólogos”, mas também “dúvidas sobre os critérios de conservação para atingir as metas acordadas”.

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