PS, por uma liderança combativa

Pedro Nuno Santos nem caiu na tentação de despropositados frentismos de esquerda, nem cometeu o erro de admitir por antecipação viabilizar um Governo da direita, ainda que sem o Chega.

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Daqui a dias, os militantes e simpatizantes do PS vão às urnas, mas não para decidir que partido somos. Ao contrário do que alguns parecem sugerir, partido todos temos o mesmo. Todos partilhamos a história e a identidade do PS como o partido do “socialismo em liberdade”, grande plataforma política da esquerda democrática e do reformismo progressista, integrado na família europeia e internacional do socialismo democrático, da social-democracia e do trabalhismo. Por isso é que, contados os votos das eleições internas, voltaremos certamente a estar juntos sob as mesmas bandeiras, como sempre aconteceu no PS.

O que vamos escolher não é o partido que somos, mas a liderança e a estratégia que vamos ter. E tenho o dever de tomar posição nessa escolha, até para que o meu silêncio não possa ser interpretado como um mero expediente de calculismo tático.

Quanto à liderança, perante o diferente perfil dos dois principais candidatos, o meu amigo e camarada Augusto Santos Silva, com a acutilância que o caracteriza, colocou a questão nestes termos: “Neste momento, precisamos mais de temperança, sobriedade e prudência, ou de energia, combatividade e carisma?” É conhecida a resposta que entendeu dar à pergunta que ele próprio formulou.

Naturalmente, seria muito injusto para ambos os candidatos atribuir a qualquer deles o monopólio exclusivo daquelas qualidades. Ainda assim, aceitando os termos da equação para efeitos de debate, não vejo como é que o PS, num momento tão sensível e a escassos meses de tão importantes eleições legislativas, poderia dispensar uma liderança “enérgica, combativa e carismática”. Aliás, na história da escolha de lideranças políticas em sociedades mediáticas, raramente um partido, tendo por onde escolher, se deu ao luxo de renunciar a ter uma liderança com suficiente energia, combatividade e carisma. Não é por acaso.

Apoio o Pedro Nuno Santos porque acredito que ele tem melhores condições para oferecer ao Partido Socialista a liderança combativa que o momento político exige e também porque vejo nele a energia necessária para prosseguir o trabalho notável dos governos de António Costa e mobilizar o país para um ciclo renovado de desenvolvimento, modernização e justiça social.

Quanto à estratégia, o debate tem sido contaminado por um equívoco: a ideia de que para conquistar o centro o PS precisa de um líder “centrista”. Sucede que os portugueses conhecem bem o PS e reconhecem-no, desde sempre, como um partido de uma esquerda progressista, mas moderada – em que jamais colará, seja qual for o líder, a disparatada acusação de “gonçalvismo”. Sabem, também, que mesmo quando fez alianças à esquerda, para devolver rendimentos e virar a página da austeridade, o PS manteve-se sempre fiel ao projeto europeu e ao seu compromisso com as contas certas. Hoje, ninguém tem dúvidas sérias sobre isto.

Assim, para conquistar eleitoralmente o centro, mais do que andar à procura um líder “centrista”, que saiba estacionar no sítio certo, o mais importante para o PS é ter um líder capaz de chegar eficazmente aos eleitores, sejam eles quais forem, incluindo para combater pelo eleitorado do centro denunciando, de forma enérgica, que um partido de direita, como aquele em que infelizmente se tornou o PSD e que não hesitou em aliar-se à extrema-direita nos Açores será sempre um intruso no espaço político do centro, seja qual for o disfarce de última hora com que se apresente.

Uma palavra, ainda, sobre a política de alianças, questão incontornável desta campanha interna. Aí, será justo reconhecer que o Pedro Nuno Santos deu claras provas de “temperança, sobriedade e prudência”: nem caiu na tentação de despropositados frentismos de esquerda, nem cometeu o erro de admitir por antecipação viabilizar um Governo da direita, ainda que sem o Chega.

Em suma, creio que o Pedro Nuno Santos oferece dois em um: por um lado, uma liderança combativa, que é condição indispensável para levar o PS a ganhar as próximas eleições legislativas, conquistando não apenas o eleitorado da esquerda, mas do centro; por outro, uma política de alianças prudente, que assume o objetivo prioritário de lutar pelo melhor resultado possível para o PS, sem deixar de se colocar em condições para, se for necessário, e respeitando a vontade democrática dos portugueses, poder construir as melhores soluções de governabilidade para o futuro do país.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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