Num “buraco negro” do Porto está a nascer o Parque da Lapa, o último possível no centro da cidade

Parque com 1,7 hectares pronto em Agosto de 2024. Negociação em processo de licenciamento de hotel com o grupo Mercan Properties obrigou privado a construir parque. Investimento é de três milhões.

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Terreno onde vai nascer o parque da Lapa, no centro do Porto Miguel Nogueira/ CM Porto
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Era um “buraco negro do Porto” e o último grande espaço disponível para a construção de um parque urbano no centro da cidade. Esta segunda-feira, numa cerimónia simbólica, assinalou-se o início da empreitada de construção do Parque da Lapa, um investimento privado de três milhões de euros. Se tudo correr como o previsto, os 1,7 hectares estarão abertos ao público em Agosto do próximo ano. “Acreditamos que esta parte da cidade vai ter uma vida nova”, congratulou-se Rui Moreira.

A empreitada é assumida pelo grupo Mercan Properties, que em 2019 adquiriu um conjunto de terrenos na zona da Lapa sem uso há décadas. O antigo proprietário queria construir ali uma residência de estudantes, mas o grupo canadiano tinha outros planos. Em diálogo com a Câmara do Porto, conseguiram o licenciamento para uma unidade hoteleira e comprometeram-se, em troca, a requalificar as ruas de Cervantes e de Alves Redol (abertas desde Março) e, ainda, a construir um parque urbano de 17 mil metros quadrados: 14,500 cedidos por eles à autarquia, os outros 2500 provenientes de parcelas municipais.

A parceria é um exemplo de “como a colaboração entre os sectores público e privado pode dar frutos significativos para a comunidade”, sublinhou Jordi Vilanova, presidente da Mercan Properties, que inaugurou o Renaissance Porto Lapa Hotel, de cinco estrelas, em Abril deste ano, após um investimento de 56 milhões de euros.

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Jordi Vilanova, da Mercan Properties, e Rui Moreira, na cerimónia simbólica de início da obra Miguel Nogueira/ CM Porto

“Aqui não havia nada”, apontava Rui Moreira aos jornalistas, após um pequeno passeio em parte do terreno a ser intervencionado. “É um excelente negócio. Naturalmente é bom para o privado, senão ele não o fazia, mas é também para o público.”

O presidente da Câmara do Porto recuou ao seu ano inaugural nos destinos da autarquia, 2013, para relatar conversas com moradores da zona, aflitos com as condições precárias daquele lugar e o atravessamento através de descampados para chegar à estação de metro da Lapa. O pedido mais comum era uma intervenção dois em um, “um parque de fruição, mas também de atravessamento”, permitindo cerzir a cidade.

O novo parque terá uma ligação directa à estação de metro e contará também com uma bacia de retenção de águas pluviais, perseguindo uma “vocação ambiental” e ajudando a resolver um problema crescente na cidade. “Temos tido, nos últimos tempos, períodos elevadíssimos de pluviosidade. Há zonas da cidade que ficam alagadas. Este parque, pelo seu desenho, vai permitir receber águas excessivas e reaproveitá-las.”

No discurso no Hotel Renaissance, que tem 163 quartos e está ainda em expansão, Rui Moreira aproveitou para elogiar o tipo de turismo atraído por esta unidade hoteleira. “Estão a conseguir trazer turistas do outro lado do Atlântico. O Porto é hoje um destino de referência para os norte-americanos. Vamos ter mais ligações dos Estados Unidos. Não vai ser com a TAP, mas temos outras companhias áreas que acreditam em nós”, provocou, referindo ligações directas previstas para Boston e Toronto.

Miguel Nogueira/ CM Porto
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Expansão prevista

A Câmara do Porto cedeu ao Centro Cultural e Desportivo do Porto um terreno, junto ao parque e ao Hotel Renaissance, para ser construído um lar de idosos. Muito perto, uma outra parcela foi cedida ao Clube de Ténis do Porto, para que este melhore os acessos ao seu espaço pela parte inferior. “É um desenvolvimento integrado da cidade, com um conjunto de valências que vão permitir a fruição deste espaço e que tem um grande impacto ambiental”, disse Rui Moreira, dizendo que se nota também um movimento de reabilitação do edificado ali à volta.

Na gaveta, tal como já tinha sido avançado, há ainda um projecto para expandir o espaço até perto do Liceu Carolina Michaëlis. No próximo ano, disse o vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, inicia-se uma empreitada de abertura de um arruamento que ligará a Rua de Cervantes à Rua do Barão de Forrester. Essa intervenção, que inclui partes de terrenos do Ministério da Justiça, será assumida por um promotor privado, que fará uma residência de estudantes nessa nova rua. “É um processo contínuo de expansão deste parque.”

Num outro terreno propriedade do Estado, a sul da linha de metro, será feito um loteamento, com dois edifícios para habitação acessível e um conjunto de arruamentos, numa parceria entre a Câmara do Porto e o IHRU. A transferência desse território para o município esteve prevista em 2022, mas, “por dificuldades internas do funcionamento do Estado central”, ainda não chegou às mãos da autarquia.

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