Frances Sternhagen (1930-2023), dos palcos para os muitos papéis de mãe na televisão

Vencedora de prémios Tony e nomeada para Emmys, a actriz morreu no final de Novembro, aos 93 anos.

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Frances Sternhagen chegou ao mundo do cinema bastante tarde e não como vedeta principal GUS RUELAS/Reuters
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A actriz Frances Sternhagen passou por muitos ecrãs, fossem de televisão ou cinema, mas a sua longa vida foi sobretudo passada em cima de palcos, na Broadway e fora dela. Mesmo sem se tornar uma estrela reconhecível, foi uma sólida presença nos teatros nova-iorquinos durante meio século, desde meados dos anos 1950 até ao início dos anos 2000. Fez parte de inúmeros e variados espectáculos, que lhe valeram nomeações e vitórias em prémios como os Tonys ou os Obies. Morreu no fim de Novembro, no dia 27, aos 93 anos, a mero mês e meio de fazer 94. O óbito deu-se em sua casa, em New Rochelle, Nova Iorque, tendo sido anunciado pela família dois dias depois.

Sternhagen nasceu em 1930, em Washington, D.C., filha de John M. Sternhagen, que foi juiz do tribunal tributário americano, e de uma dona de casa que tinha sido enfermeira. Na faculdade, na Virgínia, virou-se para a representação quando a ideia original era estudar História. Depois foi dar aulas para o Massachusetts, regressando a Washington, onde retomou os estudos na área do Teatro. Em 1955, começou a actuar nos palcos nova-iorquinos, o mesmo ano em que começou a aparecer em televisão, tendo feito parte de inúmeras produções de teatro filmado, anúncios, telenovelas e outras séries.

Ganhou prémios Tony pela participação na produção original de The Good Doctor, de Neil Simon a partir de Tchekhov, em 1973, onde fazia vários papéis, e numa produção de 1995 de A Herdeira, de Ruth e Augustus Goetz, baseada em Henry James. Foi ainda na produção original fora da Broadway da peça vencedora de um Pulitzer de Alfred Uhry, substituindo Dana Ivey. Quando chegou ao cinema, esse papel foi feito por Jessica Tandy, que tinha sido colega de Sternhagen na produção original da Broadway de All Over, de Edward Albee, em 1971. Protagonizou A Casa do Lago, de Ernest Thompson, no papel que no cinema, em 1981, viria a ser de Katharine Hepburn. Para essas personagens mais velhas, bem mais avançadas em termos de idade do que a actriz, usou maquilhagem para envelhecer. Foi nomeada para prémios Tony por A Casa do Lago, e ainda por Equus, Angel, Morning’s at Seven e The Sign in Sidney Burstein’s Window.

As suas personagens mais reconhecíveis, para quem não frequentou teatros nova-iorquinos ao longo da segunda metade do século XX, eram normalmente mães de alguém. Na televisão, foi progenitora ou avó de várias personagens entre os anos 1980 e 2000. Por exemplo, a do Cliff Clavin de John Ratzenberger, um dos clientes habituais de Cheers, Aquele Bar, tendo sido mencionada muito antes de sequer começar a aparecer na quinta temporada da série cómica. Nos anos 1990, foi avó do Dr. Carter de Noah Wyle em Serviço de Urgência. Já nos anos 2000, deu corpo à mãe do Trey MacDougal de Kyle MacLachlan em O Sexo e a Cidade, ou seja, a sogra da Charlotte de Kristin Davis. Foi ainda mãe da Brenda Leigh Johnson de Kyra Sedgwick em The Closer. Os papéis recorrentes em Cheers e O Sexo e a Cidade valeram-lhe nomeações para Emmys.

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Frances Sternhagen na estreia de Julie & Julia, em Nova Iorque, em Julho de 2009 Jamie Fine/Reuters

Ao cinema, chegou bastante tarde, e não como vedeta principal. O seu primeiro crédito é de 1967, quando tinha 37 anos. Segundo o obituário do The New York Times, a actriz foi, ao longo dos anos, recusando vários papéis no cinema para se manter próxima da sua família. Apareceu, na década de 1970, em filmes como Amar de Novo, de Alan J. Pakula, o primeiro filme escrito por James L. Brooks, que, vindo da televisão, acabaria por se tornar um bem-sucedido realizador, poucos anos depois.

Já nos anos 1980, fez Outland — Atmosfera Zero, de Peter Hyams, um filme de ficção científica com Sean Connery que lhe valeu um prémio Saturn, ou As Mil Luzes de Nova Iorque, de James Bridges, com Michael J. Fox, com quem contracenaria também em Doutor Sarilhos, de Michael Caton-Jones. Nas décadas seguintes, participou em Misery — O Capítulo Final, de Rob Reiner, a partir de Stephen King, Em Nome de Caim, de Brian De Palma, ou Julie e Julia, o derradeiro filme de Nora Ephron, em que fazia de Irma S. Rombauer, autora de livros de receitas. O seu último crédito veio em 2014, já na casa dos 80, na comédia romântica Nunca Digas Nunca, de Rob Reiner.

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