Rosa

Não tenho como me lembrar da minha irmã que morreu pequena, numa passagem pela vida mais efémera do que um sopro, mas nunca me esqueço de que, um dia, ela existiu.

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Vejo-lhe os lábios roxos e a pele muito branca. Sei que está morta assim que a encaro, mas neste sonho isso não a impede de falar. O cenário à nossa volta é sempre igual e demasiado carregado de cor-de-rosa, imagino que em homenagem ao nome que lhe deram na Terra. Quero abraçá-la, mas tenho medo. “Estás a esquecer-te de mim”, diz-me numa voz doce de criança. E eu quero dizer-lhe que não e fazê-la perceber que sei exactamente quem é, apesar de não ter gravada uma única memória que a inclua. “Eu sei que és a minha irmã”, tento responder. Só que os meus lábios estão colados e, por mais força que faça, é impossível afastá-los. Continuo a tentar, cada vez mais aflita, e acabo por acordar em pânico, com o coração a saltar-me pela boca e a sensação de que uma mão invisível me amordaçou. Todas as santas noites. Há quase um mês.

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