Câmara de Lisboa anuncia comemoração do 25 de Novembro de 1975

O executivo municipal defende que o 25 de Abril de 1974 “só se completou verdadeiramente” com o 25 de Novembro de 1975, fazendo uso de uma citação de Álvaro Cunhal desmentida pelo PCP.

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A CML vai realizar uma cerimónia comemorativa no salão nobre dos Paços do Concelho Rui Gaudencio

A Câmara Municipal de Lisboa (CML) "vai recordar e assinalar" o 25 de Novembro de 1975 com várias iniciativas na cidade, anunciou esta terça-feira a autarquia liderada por Carlos Moedas (PSD), apesar do voto de condenação aprovado em Outubro pelo executivo municipal.

"O 25 de Abril de 1974 pôs fim à ditadura do Estado Novo, mas aquele 'dia inicial inteiro e limpo', como nos disse Sophia [de Mello Breyner Andresen], só se completou verdadeiramente quando todos aqueles que, à data, afirmavam que 'em Portugal jamais haverá oportunidade para uma democracia de tipo ocidental' foram vencidos a 25 de Novembro de 1975. Só em Novembro se cumpriu Abril", refere a autarquia lisboeta, em comunicado.

A nota atribui a primeira citação sobre o 25 de Abril à poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, mas é omissa em relação à segunda frase citada, que a Iniciativa Liberal (IL), na rede social Facebook, também cita — "Em Portugal jamais haverá oportunidade para uma democracia de tipo ocidental como há na Europa" — e atribui ao histórico líder do PCP, Álvaro Cunhal, em Junho de 1975.

A IL usou a citação para anunciar a iniciativa "Celebrar a Liberdade", em 25 de Novembro, no Jardim da Cordoaria, no Porto. A citação faz parte de uma entrevista do antigo secretário-geral comunista a Oriana Fallaci, em Junho de 1975, publicada na revista francesa Paris Match, desmentida pelo PCP devido à "grosseira deturpação" das palavras de Cunhal, mas a jornalista reiterou a exactidão da tradução e disse que tinha a afirmação gravada.

"É esta história, que teve Lisboa como um dos palcos principais, que a CML quer relembrar", acrescenta a autarquia lisboeta na nota.

A programação de 25 de Novembro terá início às 11h, com a deposição de uma coroa de flores em homenagem aos militares tenente José Coimbra e furriel Joaquim Pires, na Calçada da Ajuda, e às 12h15 terá lugar a cerimónia comemorativa do 48.º aniversário do 25 de Novembro, no salão nobre dos Paços do Concelho.

A conferência "Democracia e Liberdade: Cumprir Abril em Novembro", pelas 15h, leva ao Palácio Galveias, ao Campo Pequeno, Álvaro Beleza, presidente da Sedes - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, e o analista político José Miguel Júdice.

A exposição "25N - A história que não te contaram", pelo Instituto +Liberdade, estará patente na Praça do Município, entre 24 de Novembro e 17 de Dezembro.

Estas iniciativas, como é referido na nota da autarquia, justificam-se "porque há datas que temos a obrigação ética e social de não esquecer". "A bem da democracia e da liberdade. A bem das novas gerações", acrescenta Carlos Moedas.

A iniciativa surge após o executivo municipal ter aprovado, em 11 de Outubro, um voto de condenação pelo anúncio das comemorações do 25 de Novembro pelo presidente da autarquia, proposto pelo PCP, por constituir "uma tentativa de menorizar a dimensão e significado da Revolução de Abril". O voto foi aprovado com votos a favor de PS, BE, PCP, Cidadãos por Lisboa e Livre e contra de PSD e CDS-PP.

No documento, a vereação comunista recordou que, em 5 de Outubro, "na cerimónia comemorativa do 113.º aniversário da implantação da República, a cidade de Lisboa foi surpreendida com um anúncio feito pelo presidente da CML, Carlos Moedas: "Aproveito para anunciar que, para além da data histórica do 25 de Abril, festejaremos também com uma grande iniciativa o 25 de Novembro".

"A anunciada intenção, mais do que assinalar uma data, constitui uma tentativa de menorizar a dimensão e significado da Revolução de Abril, das suas conquistas e valores, num momento em que se iniciaram as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril", apontaram os eleitos do PCP.

No texto do voto de condenação era ainda referido que "o que transparece com este anúncio, acima de tudo, é um incómodo com Abril, com a liberdade, a democracia e o progresso social que Abril nos trouxe", usando o 25 de Novembro "e as falsificações que, a partir de determinados sectores, a seu propósito se tornaram correntes para encobrir aqueles que não perdoam que os militares de Abril e o povo português tenham posto fim ao fascismo".

Carlos Moedas, eleito pela coligação Novos Tempos (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança), anunciou em 5 de Outubro que a cidade vai festejar "com uma grande iniciativa o 25 de Novembro", além do 25 de Abril de 1974, "porque todas as datas contam".

No seu discurso, perante diversas entidades, entre as quais o primeiro-ministro, António Costa, e antes do discurso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Câmara de Lisboa destacou que há "datas que se tornam símbolos", que podem ser reduzidos "a meros ritos cerimoniais, repetitivos e rotineiros" ou "datas lembradas no papel, mas sentidas com apatia pelas pessoas".

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