Estudantes querem apoio psicológico em todas as faculdades da Universidade de Lisboa

Presidente da associação diz que resultados de um inquérito que revela que 25% dos alunos têm níveis muito severos de stress devem-se a práticas pedagógicas “muito desactualizadas”.

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A persistência de práticas pedagógicas desactualizadas é apontada como uma das explicações para a falta de motivação dos estudantes Maria Abranches (arquivo)
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A Associação Académica da Universidade de Lisboa diz estar preocupada com os resultados de um inquérito que mostra que só um terço dos 52 mil alunos de todas as faculdades daquela universidade manifesta entusiasmo com a vida académica. O mesmo estudo diz que 15,3% dos alunos têm risco de burnout, 25% têm níveis severos ou muito severos de stress, 26,4% de ansiedade e 25,2% de depressão. E quer gabinetes de apoio psicológico em todas as faculdades.

O inquérito, a cujos resultados o PÚBLICO teve acesso, foi feito entre 18 de Abril e 10 de Junho de 2022, teve 7756 respostas, e foi o primeiro questionário sobre saúde mental com esta dimensão feito pela Universidade de Lisboa a alunos de todos os níveis de ensino das 18 faculdades, disse a pró-reitora com o pelouro do bem-estar, Maria José Chambel, na notícia publicada no sábado.

O presidente da associação, Diogo Ferreira Leite, interpreta, ao PÚBLICO, os níveis de stress e burnout como decorrentes de “práticas pedagógicas muito desactualizadas em algumas faculdades” e com a “sobrecarga académica” é o caso das faculdades de Medicina, Direito e Instituto Superior Técnico, afirmou.

“São faculdades de onde os estudantes nos têm feito chegar o maior número de dificuldades e queixas sobre modelos de avaliação.” A acrescentar há ainda as preocupações com o custo de vida para os estudantes, “que nunca foi tão alto”. “Isso adiciona peso psicológico e dificulta a frequência dos cursos e a conclusão dos mesmos. Pedimos que o Governo olhe para estes dados com a preocupação que é devida.”

Sobre o facto de os dados terem expressado baixa motivação, o dirigente estudantil considera que tal se deve, em parte, às práticas pedagógicas dos professores. “Sabemos que há unidades curriculares que não envolvem os estudantes”, diz. Em algumas disciplinas o modelo seguido é o expositivo, onde o “aluno fica sentado a ouvir”.

Outra das razões para a baixa motivação, na sua opinião, tem que ver com a forma como os currículos estão construídos, ou seja, com o facto de não permitirem grande margem para o aluno escolher o conteúdo em função do seu projecto e preferências. O dirigente dá o exemplo positivo do Técnico, em que os alunos podem frequentar unidades curriculares de outras faculdades.

Por isso, Diogo Ferreira Leite acredita que o modelo deve ser repensado para promover uma maior integração e contacto entre aluno e professor.

De acordo com Maria José Chambel, os números revelados por este inquérito não são “considerados alarmantes” pela universidade, “tanto mais que vários estudos internacionais têm vindo a reportar valores de aproximadamente 50% para as situações de perturbação mental nos estudantes do ensino superior”. “Obviamente que o objectivo é ter 0% de pessoas com problemas de saúde mental”, ressalva. E acrescenta: “O que importa é desenvolver cada vez mais estratégias preventivas e respostas de intervenção.”

Segundo afirmava a pró-reitora, entre 2015 e 2021, os serviços de apoio psicológico cresceram 300%, passando de 1813 consultas em 2015 para 4158 em 2021. O centro médico da universidade tem dez psicólogos que realizam consultas diariamente e que servem todas as faculdades; além disso, em nove das faculdades há gabinetes de apoio ao estudante onde há psicólogos “que fazem acções de prevenção”, refere.

O presidente da associação de estudantes defende a existência de gabinetes de apoio psicológico, assegurada pelo Estado, nas 18 faculdades, vocacionados para “acolher a necessidade dos estudantes”. “No nosso entender, a pandemia não veio acentuar, mas desmistificar um certo tabu sobre a saúde mental. Hoje os estudantes sentem-se mais à-vontade para recorrer a este tipo de serviços.”

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