Cavadoude e os seus encantos

“Nas nossas aldeias, como em Cavadoude, encontramos aquilo de que não estamos à espera”, escreve a leitora Ana Gil Cardoso, que passa o mês de Agosto na aldeia do distrito da Guarda.

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Cavadoude é muito pouco habitada: segundo o censo de 2021, por 243 pessoas Ana Gil Lourenço
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O despertador toca às seis horas, levantamo-nos apressadamente, comemos, levamos as malas e enchemos o carro. Como sempre, eu e o meu pai carregamos as malas e a minha mãe organiza-as de forma a caber tudo no automóvel. Todos os Verões, no mês de Agosto, passamos férias em Cavadoude, no distrito da Guarda, terra dos meus avós e da minha mãe.

O dia estava bastante quente, com o sol tão radiante que fazia confusão aos olhos. Uma viagem de três horas com aquele sol, num espaço exíguo em que mal nos podemos mexer, é realmente como estar dentro de um fogão ligado.

Chegando à aldeia, a primeira coisa que fazemos é apreciar o ar puro, a paisagem do pequeno rio que passa pela ponte de calcário cinza, a bela natureza que a rodeia e observar como todos os anos nada ali muda. Parece que a aldeia está parada no tempo, com as mesmas pessoas, as mesmas sensações, as mesmas paisagens, a mesma paz… Afigura-se-nos outro mundo, onde todos vivem com felicidade, onde parece não haver problemas.

Cavadoude é muito pouco habitada (segundo o censo de 2021, por 243 pessoas) e, tendo uma beleza inigualável, são igualmente poucos os que aproveitam a sua tranquilidade.

Cada dia que passa descubro novas paisagens. Com efeito, cada lugar na aldeia tem algo notável, como o pequeno rio em que flui uma ligeira corrente de água, os pássaros a cantar no sobreiro, o sol a bater nas casas de pedra e a reflectir nas janelas das casas, os cães e os gatos a andar pelas estreitas ruas. Cada ponto da aldeia é único à sua maneira.

Nos dias de grande calor, só temos as praias fluviais para combater a elevada temperatura. As praias fluviais são calmas, todos se respeitam, nunca há confusões, o ambiente é muito agradável. Alguém até aí desconhecido pode ser uma nova companhia, porque ali todos nos damos bem, independentemente das gerações.

Gosto de explorar a pequena aldeia e encontrar novas perspectivas. O meu olhar fica preso nos pequenos encantos de Cavadoude: a beleza do cada pôr do Sol, de cada animal, de cada planta, de cada anoitecer…

Os anoiteceres são especialmente apaziguadores. Não faz muito calor nem muito frio, bate um ventinho que sabe bem. É nessa altura que vou dar um passeio pela aldeia com os meus pais. Esses passeios são óptimos, aliviamos a mente e a alma. Numa dessas digressões encontrei um pequeno troço de água, segui-o e deparei-me com uma lagoa e uma cascata. Nunca me vou esquecer dessa imagem. A pequena lagoa reflectia a lua que surgia no céu estrelado e a água caía suavemente, sem estrondo.

Nas nossas aldeias, como em Cavadoude, encontramos aquilo de que não estamos à espera.

Ana Gil Cardoso

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