Bicho Carpinteiro fazem música tradicional “que tem de resultar numa discoteca”

Criado em 2020, ainda durante a pandemia, o projecto Bicho Carpinteiro lança esta sexta-feira um disco homónimo, cruzando cordofones tradicionais com sintetizadores e efeitos electrónicos.

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Os Bicho Carpinteiro em 2023: Diogo Esparteiro e Rui Rodrigues Rita Carmo
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Três anos depois de terem sido criadas em palco, as músicas dos Bicho Carpinteiro dão lugar a um álbum homónimo. Foram gravadas por Rui Rodrigues (Casuar:, LOT, Uxu Kalhus, Dazkarieh) e Vasco Ribeiro Casais (Omiri, Seiva, Dazkarieh), mas este último, absorvido pelo projecto Omiri, deu agora lugar, para as apresentações do vivo e para continuação do duo, a Diogo Esparteiro (Royal Bermuda, Pás de Problème). Mas a essência do projecto mantém-se, baseada na mistura das sonoridades de cordofones, tambores e adufes, com caixas de ritmos, sintetizadores e efeitos electrónicos. O álbum chega às plataformas digitais e às lojas, em CD, esta sexta-feira.

“Nós continuamos a trabalhar juntos”, diz ao PÚBLICO Rui Rodrigues, explicando a mudança na formação do duo. “O Vasco continua a colaborar com o projecto, mas decidiu não continuar no grupo, pelo menos nas apresentações ao vivo. Agora é o Diogo que está comigo.” O nascimento deste projecto deu-se em 2020, por altura da pandemia da covid-19. “Houve um convite de um festival em Chaves, ainda super-limitado, para eu e o Vasco irmos lá tocar, mas de forma muito vaga: ‘venham e toquem o que quiserem’. Como era uma altura mais parada, a nível de concertos, achámos que era o momento ideal para fazer este projecto, muito focado nos cordofones portugueses, mas também virado para a modernidade. Essa era a ideia genérica que tínhamos.”

Prepararam, então, umas “dez a quinze músicas” para o concerto, e depois, com o tempo, foram-nas trabalhando “para um formato de disco, com outra produção musical”. No fundo, diz Rui, “é mais um filho da pandemia, que além de tudo o que teve de mau, também deu coisas boas.”

O nome já tinha sido explicado pelo duo inicial, na estreia do tema Fado beirão, em 2021. Rui Rodrigues: “Queríamos um nome que, além de nos representar, estivesse ligado ao imaginário português”. E Vasco Ribeiro Casais acrescenta: “Como nós passamos a vida a inventar projectos novos e não conseguimos ficar parados, achámos que o nome Bicho Carpinteiro assentava que nem uma luva nas nossas personalidades e que fazia todo o sentido com a música que fazemos.”

O disco que agora se publica inclui, além dos dois temas já publicados em single e videoclipe, Fado beirão (em Abril de 2021) e Aioioai (no passado dia 8 de Novembro), mais oito temas: Bruma, Beco das flores, Violas temperadas, Fadão, Ventos da Arada, Chula, Larai larai e Alto lá. Destes, a maioria são instrumentais, embora recorrendo a samples de vozes, e há dois cantados em duo, por Rui e Vasco: Aioioai e Alto lá. “São os temas mais canção”, diz Rui. “Os outros podem ser considerados canções, mas são instrumentais. E é engraçado dizer isso, porque muitas vezes, mesmo os temas instrumentais eu penso neles como canção, ou seja, com verso e refrão. Porque apesar de não terem letra, essa é a minha forma de pensar na sua estrutura.”

E essa forma de encarar as músicas acaba por ser o cerne da estética dos Bicho Carpinteiro. “O foco do projecto”, diz Rui, “está mesmo nos cordofones portugueses, na viola beiroa [tocada por Rui no disco] e na viola toeira, que o Diogo toca [e que no disco é tocada por Vasco]. Esse é o nosso pronto de partida, a nossa inspiração, tanto com o Vasco como agora com o Diogo. E é isso que nos dá mais prazer, o processo de compor com os cordofones, com as referências das melodias, dos acordes, das harmonias da tradição portuguesa. Depois, numa segunda fase, começamos a acrescentar à tradição argumentos que ela normalmente não tem: toda a parte moderna, a parte electrónica, os beats, os sintetizadores. Porque achamos que esta é música tradicional portuguesa que tem de resultar numa discoteca, para as pessoas dançarem.”

Bicho Carpinteiro, o disco, tem vindo a ser pré-apresentado ao vivo em showcases, mas em Janeiro chegará a palcos maiores, em formato de concerto, diz Rui: “Temos preparado um espectáculo de vídeo, que acompanha o concerto com recolhas de imagens, a maioria delas de um ambiente mais rural, mas não só. Na música Violas temperadas, que é inspirada na nova tradição, em toda a influência que Portugal está a receber de outros sítios e que também influencia a evolução da tradição portuguesa, temos imagens de Lisboa. E temos também um espectáculo de luzes, porque o palco tem de ser tratado como uma entidade por si só e a luz é importantíssima para amplificar a narrativa que queremos transmitir.”

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A capa do disco

A estreia absoluta neste formato será, diz Rui, no dia 6 de Janeiro, na Casa da Cultura em Setúbal. Depois, há já outras três datas asseguradas: 13 de Janeiro na Sociedade Harmonia Eborense, em Évora; 19 de Janeiro no Maus Hábitos, no Porto; e 20 de Janeiro no Mavy, em Braga. Haverá também, acrescenta, concertos em Lisboa, Castelo Branco e Coimbra, em salas a anunciar brevemente.

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