O que faz o cinema de Nicolas Philibert desde La Voix de son Maître (1978): falar de nós. Na Cinemateca decorre uma retrospectiva da obra do realizador francês ao mesmo tempo que nas salas se estreia o documentário Sobre L’Adamant, Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim 2023.

L’Adamant, centro de dia para pacientes de psiquiatria, é um edifício junto ao Sena, em Paris. Nele, com os seus pacientes, o cinema de Nicolas Philibert "procura a nossa humanidade", escreve Vasco Câmara, que entrevistou o cineasta em Lisboa.

"O que me interessa na psiquiatria? Toca-me o facto de aquelas pessoas me reenviarem a mim mesmo, às minhas fragilidades, a coisas íntimas", disse Philibert. "Quero dizer que as pessoas que encontramos nas instituições psiquiátricas são pessoas que nos abrem os olhos sobre a nossa humanidade, sobre nós mesmos. As fobias fazem parte da nossa humanidade, mas depois as sociedades decretam o que é normal e o que não o é."

Será O Rapaz e a Garça o último filme do mestre japonês da animação Hayao Miyazaki? Pouco importa: ninguém conta histórias como ele. Jorge Mourinha conta como este é um filme de um criador sem sucessor no famoso Studio Ghibli.

Nesta edição, olhamos também para o Leffest. Na exposição Éloge de l’image — Le Livre d’image podemos andar dentro do cinema de Jean-Luc Godard. E Luís Miguel Oliveira mergulhou nos dez filmes da secção competitiva do festival lisboeta, com destaque para Cerrar los Ojos, de Víctor Erice.

Em 2012, um acidente de autocarro matou oito crianças em Jerusalém. O jornalista Nathan Thrall reconstitui a tragédia dando-lhe um contexto histórico e pondo-nos no quotidiano de palestinianos e israelitas – a "insanidade" feita coisa banal. O livro Um Dia na Vida de Abed Salama, agora publicado, foi escrito antes do ataque de 7 de Outubro, mas ganhou actualidade.

Rébecca Chaillon esfrega o estigma colonial com lixívia. Calixto Neto cozinha uma Feijoada que é um acto de luta. As Aurora Negra ensinam-nos a aquilombar. Marco Mendonça desmonta a prática racista do blackface com humor. É o Alkantara Festival, que começa esta sexta-feira em Lisboa, a tornar fluorescente o racismo invisível. Em destaque na programação está também Antígona na Amazónia, criação do encenador suíço Milo Rau em parceria com Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, indígenas e activistas antimineração do Brasil.

Com músicas, letras e produção de Miguel Araújo, amigo e companheiro de Coliseus esgotados, Cidade é o "disco monocasta" de António Zambujo. Nesta conversa com Gonçalo Frota, o músico conta como o ritmo e os humores da vida citadina o influenciaram. E confessa: "Depois da pandemia, sinto as pessoas menos sociais".

Quando era jovem, Chan Marshall (Cat Power) apaixonou-se por Bob Dylan. Uma fantasia. "Precisava disso", contou a Daniel Dias, em Londres. "Não sabia o que era ser amada. Só sabia coisas más, o que era amar tipos abusivos." No seu primeiro álbum ao vivo, revisita um momento marcante na história do rock – o concerto em que Dylan foi chamado de "Judas" por abraçar a música eléctrica – e a sua relação com a música do autor de Blowin' in the wind.

Há mais neste Ípsilon, como uma entrevista ao poeta Simon Armitage e recensões (Laurel Halo, Péter Nádas, Francisca Carvalho). Foi só depois do fecho da edição em papel que soubemos que a estreia do filme Dalíland, que abordamos na secção de recensões, foi adiada. Pedimos desculpa aos leitores.

Boas leituras!


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