Restaurante português centenário encerra portas em Macau

A Vencedora abriu portas em 1918 mas vai fechar na sexta-feira, devido à falta de sucessores para um negócio de família que atravessou três gerações, disse à Lusa um dos irmãos que gere o espaço.

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Um dos proprietários, Lam Kok Veng, faz contas depois de um almoço com muita clientela LUSA/GONÇALO LOBO PINHEIRO
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Clientes encheram A Vencedora depois de os proprietários terem divulgado que iriam encerrar o restaurante LUSA/GONÇALO LOBO PINHEIRO
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Clientes encheram A Vencedora depois de os proprietários terem divulgado que iriam encerrar o restaurante LUSA/GONÇALO LOBO PINHEIRO
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Clientes encheram A Vencedora depois de os proprietários terem divulgado que iriam encerrar o restaurante LUSA/GONÇALO LOBO PINHEIRO
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Os filhos de Lam Kok Veng, a residir fora de Macau, vieram dar apoio à família LUSA/GONÇALO LOBO PINHEIRO

O restaurante português A Vencedora, que abriu portas em Macau em 1918, vai fechar na sexta-feira, devido à falta de sucessores para um negócio de família que atravessou três gerações, disse à Lusa um dos irmãos que gere o espaço. "O meu filho está em Inglaterra, a minha filha em Macau, mas ela não gosta disto [o negócio da restauração]. Acha muito complicado", lamentou Lam Kok Veng. Quanto aos sobrinhos, "felizmente têm bons empregos", acrescentou.

O espaço foi criado por Lam Kuan, avô dos actuais proprietários, que tinha sido cozinheiro num navio ao serviço da Marinha Portuguesa, chamado precisamente de A Vencedora, e inicialmente era, além de um restaurante, uma loja de vinhos, azeite, conservas e chouriços.

A Vencedora tornou-se popular entre a comunidade portuguesa, nomeadamente entre os militares em comissão de serviço em Macau. Na década de 1940, por exemplo, chegou a haver cerca de 800 soldados portugueses nos quartéis do território. Muitos deixaram contas por pagar, disse Lam Kok Veng, com um sorriso, antes de abrir uma gaveta do balcão e tirar uma caixa de madeira cheia de papéis amarelados, os chamados vales de refeição, que os militares pagavam no fim do mês.

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Os irmãos Lam Kok Veng (esq.) e Lam Kok Lon (dir.), terceira geração à frente d'A Vencedora GONÇALO LOBO PINHEIRO/LUSA

Nem de propósito, a vitrina de A Vencedora inclui, entre muitas peças de cerâmicas e souvenirs ligados a Portugal, um Zé Povinho que responde com o característico manguito a quem queira fiado.

A ementa, que não muda há mais de 20 anos, faz parte da herança da família, com pratos cuja confecção nunca foi anotada, mas sim passada do fundador do restaurante para o filho e mais tarde para os netos.

Com excepção do descanso semanal, à terça-feira, o restaurante só fechou uma vez, "por uma semana", por causa dos motins "1,2,3", de 3 de Dezembro de 1966, contra a administração portuguesa, sublinhou Lam, que na altura era um adolescente.

Agora com 71 anos, toda a vida se lembra de estar em A Vencedora, onde começou por lavar pratos e servir às mesas. Mas foi só depois de acabar o ensino secundário, em 1974, que passou a trabalhar ao lado do avô e do pai.

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Clientes fazem fila à porta d’A Vencedora depois dos proprietários ter divulgado no início da semana que o centenário restaurante iria encerrar GONÇALO LOBO PINHEIRO/LUSA

As conversações para a transição de Macau para as mãos da China começaram em 1986, mas os últimos anos da administração portuguesa foram os tempos áureos de A Vencedora. "A casa estava sempre cheia e muitas vezes tínhamos de recusar reservas", recordou Lam.

Desses tempos ficaram muitos clientes regulares, incluindo antigos soldados e funcionários públicos, assim como macaenses, uma comunidade euro-asiática, com muitos luso-descendentes.

A história do segundo restaurante mais antigo de Macau - só atrás do Fat Siu Lai, criado em 1903 - chega agora ao fim. "Estamos cá eu, o meu irmão, a minha mulher e uma irmã. Já temos todos mais de 60 anos. São muitos anos, estou velho", sublinhou Lam, com um suspiro.

VQ // VM

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