Ecrãs nas escolas: mais nas aulas e menos nos recreios

O domínio dos smartphones nos recreios pode ser problemático quando se geram dependências. Os recreios são espaços físicos de interacção presencial natural, essenciais para as crianças.

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Megafone P3: Ecrãs nas escolas: mais nas aulas e menos nos recreios Adriano Miranda
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Recentemente escrevi sobre o potencial risco de manusear smartphones, relembrando que ferramentas poderosas e com impactos nos seus utilizadores e na sociedade são alvo de regulamentações.

Conduzir um veículo automóvel, entre muitos outros exemplos, exige idade mínima e certificação para o efeito. Aparentemente, o mesmo não está a acontecer para os smartphones, especialmente porque crianças os utilizam desde muito cedo. Ficam imensas dúvidas sobre os efeitos no desenvolvimento infantil, socialização e as implicações de actos e decisões tomados sem a devida maturidade.

Mas este alerta não deve ser confundido com a proibição das tecnologias digitais nas escolas. Estaríamos a prejudicar a aprendizagem das nossas crianças se as proibíssemos. As tecnologias digitais deixaram de ser “novas” — são omnipresentes e essenciais para a vida contemporânea. As nossas crianças precisam de as saber utilizar.

Além disso, estas tecnologias podem suportar métodos de ensino nunca vistos, permitindo adaptar e aumentar realidades para melhor responder a toda a diversidade e necessidades das crianças. Por isso os ecrãs devem estar na sala de aula, serem ferramentas de ensino, expressão e interacção para os alunos. As escolas que melhor as souberem explorar estão a preparar melhor os seus alunos para o futuro.

Uma coisa muito diferente são as dependências dos ecrãs e o que acontece nos recreios. As crianças expressam-se através dos telemóveis e meios digitais? Com certeza que sim. Hoje exploram essas ferramentas de modo híbrido também. Parece óbvio quando vemos crianças a dançar, organizar coreografias para fazerem vídeos — o mesmo na construção de histórias que podem animar e editar.

As competências que treinam nos jogos, quer pela resolução de problemas, quer no caso dos jogos multijogador ensinam-lhes muito sobre colaboração e liderança. Podia escrever páginas sem fim de exemplos.

No entanto, o domínio dos smartphones nos recreios pode ser problemático quando se geram dependências. Os recreios são espaços físicos de interacção presencial natural. Essas actividades são essenciais para as crianças. Mas vejam quão pobres esses espaços são na realidade. É normal que os smartphones ganhem. Muitas escolas são feias, tristes, com espaços degradados ou demasiado higienizados.

Existe alguma preocupação nas escolas do ensino básico, mas e depois? Onde estão os espaços para que as crianças e jovens experimentem outras coisas? É possível encontrar outras actividades que concorram com os smartphones, mas para isso é preciso investimento e uma nova forma de reorganização e planeamento dos espaços escolares.

Mais ecrãs nas aulas, para melhorar as experiências de aprendizagem. Menos ecrãs desgarrados nos recreios, com mais alternativas de espaços e actividades de interesse e interacção presencial que tornem as proibições cegas uma redundância. O futuro exige uma escola híbrida.

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