Quem é Ahed Tamimi, a palestiniana de 22 anos detida pelas forças israelitas?

Tornou-se um símbolo da resistência palestiniana por ter esbofeteado um soldado israelita. Agora, foi detida por uma publicação que a mãe garante que Ahed não fez.

Foto
Ahed Tamimi tem 22 anos REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:41

Tinha 16 anos quando foi presa durante oito meses pelas forças israelitas pela primeira vez, por dar um estalo a um soldado, depois de o seu primo de 15 anos ter sido baleado com uma bala de borracha. Antes, com 14, tinha mordido outro soldado que tentava prender o seu irmão mais novo. Agora com 22, Ahed Tamimi foi detida por suspeita de “incitar à violência e actividades terroristas” — justificou assim o ministro da Segurança Nacional israelita, Itamar Ben-Gvir, na rede social X (antigo Twitter). A publicação mostra também uma fotografia da activista palestiniana a ser detida num quarto.

Segundo o jornal israelita Haaretz, a jovem, que se tornou um símbolo da resistência palestiniana, terá ameaçado os colonos e escrito no Instagram: “Irão dizer que o que o Hitler vos fez foi uma piada.” Mas a publicação não está disponível online e o perfil onde foi feita desapareceu. À AFP, a mãe de Tamimi negou que a mensagem fosse da autoria da filha: “Há imensas páginas com o nome e a foto da Ahed, com as quais ela não tem qualquer ligação”, garantiu. E referiu ainda que as forças israelitas invadiram a sua casa e confiscaram os telemóveis.

Filha de activistas, Ahem cresceu numa família que desde sempre se insurgiu contra a ocupação. O seu pai, Bassem, chegou a ser nomeado “prisioneiro de consciência” pela Amnistia Internacional e, em 2011, foi considerado um defensor dos direitos humanos pela União Europeia. Foi preso várias vezes, tendo passado, pelo menos, quatro anos na prisão. Um número que pode vir a aumentar: segundo a Al-Jazeera, foi detido na semana passada e não há informações sobre o seu paradeiro.

Ahed foi uma das pelo menos 70 pessoas detidas em rusgas feitas por Israel na noite de domingo para segunda-feira em Nabi Saleh, na Cisjordânia, onde a tensão entre colonos israelitas e palestinianos tem vindo a crescer. Desde o ataque do Hamas a Israel, que provocou 1400 mortos e mais de 5400 feridos, no dia 7 de Outubro, já foram detidas 2150 pessoas neste território, e, de acordo com as Nações Unidas, 141 foram mortas, maioritariamente durante protestos de solidariedade com Gaza — onde, em apenas um mês, já tinham sido mortas quase dez mil pessoas, de acordo com as autoridades de Gaza, uma região controlada pelo Hamas.

“Sei que me podem matar a qualquer altura. Mas vou morrer de qualquer forma, por isso prefiro morrer a lutar pelas minhas crenças”, disse Ahed à jornalista Dena Takuri, que escreveu They Called Me a Lioness: A Palestinian Girl’s Fight For Freedom, um livro de memórias da activista.

Sobre os oito meses que passou na prisão, disse terem afectado a sua vida e a sua personalidade, mas que a ocupação já o tinha feito antes: “Mesmo sem sermos presos, perdemos a nossa infância, a nossa juventude, as nossas vidas. Não são só os palestinianos que são presos que são maltratados e sofrem. Não é normal viver sob ocupação.”

Depois de ser libertada, em 2018, Ahed começou a estudar Direito para ser capaz de “responsabilizar a ocupação”: desde 1967, vivem neste território cerca de 600 mil judeus distribuídos por 140 colonatos, considerados ilegais pela maioria dos países, mas defendidos por Israel, que invoca laços históricos e bíblicos com a terra.

“Viver sob ocupação é acordar e ver um colono. É ser Verão e não poder ir à praia. É ter os sonhos ameaçados desde a infância: queres ser futebolista ou atleta, mas a qualquer momento és baleado no pé. É querer ir para a universidade, a 15 minutos, e ter de passar por dois checkpoints. E se estiverem fechados, já não podes ir."

Por ser um rosto conhecido, o perigo de viver na Cisjordânia pode ser ainda maior. A activista diz ser frequentemente reconhecida pelos colonos israelitas e recorda quando um primo impediu uma bala direccionada a si. No Ocidente, a sua aparência pode ter contribuído para o seu reconhecimento. “Quando esta criança não se enquadra nos estereótipos, por se parecer com uma criança europeia ou americana, todo o trabalho de desumanização parece deixar de funcionar”, disse, em 2012, o jornalista Ben Ehrenreich, que fez uma reportagem sobre a família Tamimi.

Foto
Ahed Tamimi com os pais Bassem e Nariman REUTERS/Raneen Sawafta

De acordo com um relatório das Nações Unidas de 2023, já foram presos aproximadamente um milhão de palestinianos desde 1967. Actualmente, cinco mil estão nesta situação e, desses, mais de mil não tiveram julgamento. A relatora das Nações Unidas, Francesca Albanese, reportou que, na altura, 160 crianças palestinianas estavam presas em prisões israelitas. Albanese referiu ainda que as crianças, que podem ser presas a partir dos 12 anos, eram tratadas “de forma desumana e como adultas”.

Sugerir correcção
Ler 9 comentários