Cogumelo mortal europeu reproduz-se sem parceiro na Califórnia

Estudo com participação de cientista portuguesa da Universidade de Coimbra descobriu que cogumelo tem capacidade de se autofertilizar, algo que raramente tinha sido observado fora do laboratório.

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Na Europa, o cogumelo Amanita phalloides reproduz-se normalmente de forma bissexuada Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

O cogumelo Amanita phalloides, um fungo mortal originário da Europa, é capaz de se reproduzir sem parceiro na Califórnia, nos Estados Unidos (EUA), mostra um estudo levado a cabo por uma equipa internacional de cientistas, incluindo uma investigadora da Universidade de Coimbra.

O trabalho, publicado na revista Nature Communications, com o título Invasive Californian death caps develop mushrooms unisexually and bisexually, dá a conhecer “a estranha vida sexual deste cogumelo europeu na Califórnia e ajuda a explicar a rápida disseminação do fungo”, segundo um comunicado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

O cogumelo mortal da espécie Amanita phalloides é originário da Europa, mas foi introduzido inadvertidamente nos EUA, onde se tem expandido, sobretudo na Costa Oeste. O novo estudo permitiu “identificar que, na Califórnia, o fungo é capaz de se reproduzir sem parceiro, autofertilizando-se”, adianta Anne Pringle da Universidade de Wisconsin-Madison, EUA, coordenadora e autora sénior do estudo​. Trata-se de “um tipo invulgar de reprodução sexual em fungos que raramente foi observado fora do laboratório”, explica a investigadora, citada em comunicado.

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Investigadora Susana C. Gonçalves estuda o cogumelo Amanita phalloides Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra

“Esta espécie reproduz-se normalmente de forma bissexuada: as estruturas subterrâneas, o micélio, de dois indivíduos distintos compatíveis fundem-se e produzem cogumelos que contêm ADN de ambos os indivíduos”, explica. Este tipo de reprodução “ainda acontece na Europa”, refere o comunicado, tendo a equipa de investigadores sequenciado o ADN de cogumelos da Europa, incluindo várias populações de Portugal, e descoberto que “continham dois conjuntos de material genético, um de cada progenitor”.

No entanto, na Califórnia, onde os cogumelos desta espécie foram observados pela primeira vez no início do século XX, “o fungo parece estar a fazer algo bastante diferente”, refere o comunicado. “O ADN de alguns cogumelos da Califórnia continha apenas um conjunto de material genético, indicando que cada um tinha surgido a partir de um único indivíduo. A maneira como o faz não é muito clara”, observam os autores do estudo.

O Amanita phalloides “contorna, de alguma forma, os controlos genéticos que garantem que os cogumelos só são produzidos depois de dois indivíduos se terem fundido”, no entender dos investigadores. “A capacidade de se autofertilizar pode ser uma vantagem quando se chega a um novo habitat onde não há parceiros compatíveis”, sustenta Susana C. Gonçalves, investigadora do Centro de Ecologia Funcional, que participou no trabalho.

Para os autores do estudo, a unissexualidade pode ajudar a explicar a rápida disseminação da espécie ao longo da Costa Oeste dos EUA. “O próximo passo é saber se outras espécies invasoras de fungos estão a usar estratégias semelhantes na natureza”, conclui a investigadora.

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