O que resta da memória de Rondon

A história da Rondónia é um banco de ensaios onde se podem testar as causas e as consequências do processo de “desenvolvimento” que ameaça a maior floresta tropical do mundo.

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Para o jornalista Júlio Olivar, Cândido Rodon (à direita) "é o brasileiro mais extraordinário de todos os tempos” Museu do Índio/FUNAI
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Nos subúrbios de Vilhena há uma pequena casa recuperada e cercada por uma vedação de arame entre extensas áreas planas com destroços do final da colheita de algodão. Durante décadas, a casa era um posto de telégrafo da linha com que no começo do século XX se pretendia ligar o florescente negócio da borracha no Acre, que o Brasil acabara de “comprar” à Bolívia, e no rio Madeira, na Amazónia, ao Rio de Janeiro. Quando Cândido Rondon, o engenheiro militar que rasgou a linha ao longo de 1600 quilómetros de floresta virgem, inaugurou o posto, em 1915, dificilmente poderia imaginar que um século depois haveria ali uma cidade com mais de 100 mil habitantes ou que todos aqueles territórios distantes e desconhecidos que estava a descobrir teriam o seu nome: Rondónia. Ser-lhe-ia também difícil de aceitar que a sua biografia positivista, baseada na crença na ciência e na ideia de progresso da humanidade, ficasse associada a um dos maiores bastiões do conservadorismo do Brasil contemporâneo. Nas últimas eleições presidenciais de 2022, a Rondónia foi o único estado do Brasil onde Jair Bolsonaro bateu Lula em todos os municípios.

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