Direita reforça votação nas eleições federais na Suíça

SVP elege mais oito deputados em relação a 2019 após campanha focada na imigração e na promessa de que o país não irá superar os 10 milhões de habitantes.

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Os suíços votaram este domingo para o parlamento federal EPA/JEAN-CHRISTOPHE BOTT
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O receio da imigração superou a preocupação com as alterações climáticas e a direita reforçou a votação nas eleições federais na Suíça, em que o Partido Popular Suíço (SVP), a maior força política do país, recebeu 29% dos votos, um aumento de mais de três pontos percentuais em relação ao acto eleitoral de 2019, de acordo com as sondagens à boca das urnas.

O SVP fez da demografia o seu principal cavalo de batalha da campanha eleitoral, prometendo evitar que a que a população do país, actualmente de 8,7 milhões de pessoas, possa ultrapassar os 10 milhões.

“Temos problemas com a imigração, imigrantes ilegais e problemas com a segurança energética", disse o líder do SVP, Marco Chiesa. “Já temos o caos do asilo. Uma população de 10 milhões de pessoas na Suíça é um assunto que realmente temos que resolver", acrescentou.

Os ataques à imigração são, desde há vários anos, a principal política do SVP, que é há duas décadas o partido com maior representação parlamentar. Para estas eleições, a Comissão Federal contra o Racismo acusou o partido de ter levado a cabo uma campanha “xenófoba”, que incluiu a publicação de anúncios nas redes sociais destinados a alimentar o medo em relação aos imigrantes.

As publicações mostravam facas ensanguentadas, criminosos encapuzados e mulheres assustadas, acompanhadas com uma pergunta: “Pode ser este o novo normal?”. O SVP não deixou também passar, durante a campanha, a “cultura do cancelamento”, que descreveu como “loucura woke”.

O resultado projectado pela emissora suíça SRF significa que o SVP aumentará em oito, para 61, o seu número de deputados na câmara baixa do parlamento de 200 membros, onde nenhum partido tem maioria absoluta.

Os sociais-democratas, de centro-esquerda, serão a segunda força mais votada nestas eleições federais, depois de uma campanha focada no aumento dos custos com a saúde na Suíça. O SP, que já era o segundo maior partido, deverá subir 0,7 pontos percentuais para 17,4%, juntando mais um deputado à sua representação parlamentar, que fica agora nos 40 lugares.

Os grandes derrotados das eleições deste domingo foram os Verdes, que caíram quatro pontos percentuais em relação a 2019, alcançando 9% e perdendo seis assentos no parlamento suíço, apesar de os suíços terem assistido, nos últimos anos, ao derretimento de glaciares.

“O resultado dos Verdes significa a rejeição de questões mais progressistas como o ambiente e a sustentabilidade”, comentou Cloe Jans, da empresa de sondagens GFS Bern, em declarações à Reuters. “Depois deste resultado, os políticos vão sentir menos pressão para promover a agenda ambiental nos próximos quatro anos”, acrescentou.

É improvável que o resultado altere a composição do governo suíço, o Conselho Federal, onde sete cargos do gabinete são divididos entre os quatro principais partidos, de acordo com a sua votação.

“O ‘zeitgeist’ progressista de há quatro anos desapareceu. Após quatro anos de crises, com o coronavírus e a guerra na Ucrânia, as pessoas estão mais conservadoras do que em 2019”, afirmou Michael Hermann, analista político da empresa de sondagens Sotomo.

O voto para o parlamento federal é uma das duas principais formas de participação política dos 8,5 milhões de cidadãos suíços. A outra é através de referendos regulares - geralmente quatro vezes por ano - sobre uma série de decisões políticas, que estabelecem as directrizes que o parlamento deve seguir ao elaborar e aprovar legislação.

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