Caricatura política deve ser património imaterial português, propõe IL

Liberais lembram que os cartoonistas políticos têm sido alvo de ameaças mesmo em tempos de democracia.

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A Iniciativa Liberal tem-se distinguido pelo uso da ironia e sátira política, com António Costa como alvo principal Guillermo Vidal
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Conhecidos por usarem à exaustão a sátira política como mote para a sua mensagem política, os liberais pretendem agora que a Assembleia da República recomende ao Governo a inclusão da caricatura política como património imaterial português. Num projecto de resolução que entregou no Parlamento esta segunda-feira, a Iniciativa Liberal também propõe, num statement, que se reconheça a "importância do cartoon político e do humor gráfico, hoje ameaçado por mecanismos de intolerância e autocensura até em países com sistemas democráticos".

"A sátira social e política em forma de desenho tem uma longa tradição na imprensa portuguesa e inseparável da liberdade de expressão", começam por lembrar os deputados liberais. "Desde a monarquia constitucional até aos dias de hoje, funcionou como barómetro do debate cívico, como consciência crítica da sociedade"e também por isso foi perseguida em ditadura e alvo de diversas censuras, mesmo em tempos de democracia.

"O cartoon político tem vivido sob permanente ameaça neste século que regista muitos recuos em direitos fundamentais, nomeadamente a liberdade de expressão e a liberdade de informação." Por exemplo, os dinamarqueses Kurt Westergaard e Lars Vilks foram alvos de atentados e passaram a viver sob protecção policial em 2005 por caricaturarem o profeta Maomé. Há oito anos, entre as 12 vítimas mortais do ataque terrorista ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, contavam-se os cartoonistas Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Georges Wolinski.

O expoente dos artistas plásticos que também acumularam com a caricatura foi Rafael Bordallo Pinheiro, que criou o Zé Povinho no início do último quartel do século XIX. Mas os liberais lembram outros autores de risco satírico político desse tempo — Tomás Leal da Câmara, Jorge Colaço, Manuel Roque Gameiro, Francisco Valença, Stuart Carvalhais, Almada Negreiros, Jorge Barradas e Carlos Botelho — e publicações onde se mostraram — A Lanterna Mágica, A Paródia, Papagaio Real, O António Maria, Os Ridículos e Sempre Fixe.

Já no século XX, houve outros nomes de peso, como José Vilhena, João Abel Manta, Sam, Augusto Cid, Pedro Palma, António Moreira Antunes e António Maia; e actualmente destacam-se Luís Afonso, Cristina Sampaio (ambos do PÚBLICO, e esta última autora do cartoon animado sobre racismo na PSP que motivou uma queixa ao Ministério Público), José Bandeira, Nuno Saraiva, Vasco Gargalo, Henrique Monteiro ou André Carrilho.

O cartoon político acabou por se tornar um "género jornalístico autónomo", integrado nos espaços de opinião da comunicação social. "Nos tempos mais recentes, tal como há século e meio, a caricatura não pretende apenas divertir ou fazer rir. Ambiciona também intervir socialmente, corrigir injustiças, fazer pensar", salientam os deputados da IL, e contribui com "novas formas de observar e interpretar o mundo (...) sem prestar vénias ao poder político, tenha a cor que tiver".

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