Um “convite à empatia”: o CineEco está de volta a Seia

Festival tem lugar em Seia, até 13 de Outubro. Organização do festival espera que os filmes sejam “um convite à empatia, um convite ao público para se colocar no lugar daquelas pessoas”.

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Carvão, de Carolina Markowicz DR

Na sua 29.ª edição, o CineEco, festival de cinema ambiental da Serra da Estrela, continua a querer focar-se nas pessoas à sua volta: "Queremos trazer uma perspectiva humana sobre como estas questões [ambientais] afectam a vida das pessoas", explica ao Azul o programador Daniel Oliveira, que faz a curadoria do CineEco ao lado de Cláudia Santos e Tiago Alves.

No debate actual sobre as alterações climáticas, este festival de cinema sobre temáticas ambientais pode e deve destacar-se pela diferença – e pela arte. "Informações sobre alterações climáticas as pessoas têm todos os dias na televisão. Estes filmes não são uma repetição do que vêem no jornal ou do que aprendem na escola", explica. "Estes filmes não são um TPC, não são aulinhas."

Nesta edição, que acontece de 5 a 13 de Outubro em Seia (distrito da Guarda), o festival vai ter um fim-de-semana completo de programação (nas últimas edições acontecia de sábado a sábado), procurando também receber públicos mais diversos – e não apenas "pregar aos convertidos" –, como os que visitam Seia para rever a família ou os turistas que viajam pela região. O domingo de manhã, por exemplo, foi pensado para as famílias, com filmes como a animação O Segredo dos Perlimps, do brasileiro Alê Abreu, nomeado para o Óscar de Melhor Filme de Animação.

"Um convite à empatia"

O curador fala ainda dos filmes brasileiros da programação: Carvão, uma comédia sombria de Carolina Markowicz, que passou pelos festivais de Toronto e San Sebastian, e Rejeito, de Pedro de Filippis, que conta a história das comunidades afectadas pelo desastre na barragem em Brumadinho, no estado brasileiro de Minas Gerais. "Aquelas pessoas perderam tudo – a própria cidade, a reparação é impossível, – e não conseguiram essa justiça ainda". "Sou brasileiro, sou mineiro, trabalhava como jornalista na época e vivi aquela tragédia", revela ainda Daniel Oliveira, que reside em Portugal há quatro anos, onde tem feito investigação na área do cinema.

"São pessoas comuns, moradores de uma cidade do interior como Seia", descreve, tocando num dos pontos fulcrais que o festival procura suscitar: os filmes trazem "um convite à empatia, um convite ao público para se colocar no lugar daquelas pessoas".

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Rejeito, de Pedro de Filippis, mostra o impacto do colapso de barragens em Minas Gerais, no Brasil DR

Fire resistant, do português André Rodrigues, “conta uma história local muito importante” de pessoas que perderam as suas casas nos incêndios na Serra da Estrela. Com sessão agendada para a tarde de sábado, pretende também reunir a própria população local.

Regresso a um clássico

As sessões competitivas trazem alguns filmes que passaram por Cannes, como Club Zero, de Jessica Hausner, e Le Règne Animal, de Thomas Cailley.

Lakota Nation vs United States, realizado por Jesse Short Bull e Laura Tomaselli, chega ao CineEco com uma "coincidência curiosa", conta Daniel Oliveira: "Um dos produtores [Phil Pinto] é filho de emigrantes portugueses nos Estados Unidos, os pais são da Serra da Estrela e ele passava lá alguns Verões".

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Club Zero, de Jessica Hausner DR

Por fim, na tarde de dia 12, vai haver "um momento muito especial, muito sui generis": a exibição de uma cópia restaurada de Verdes Anos, de Paulo Rocha, seguido pelo documentário Onde Fica Esta Rua ou Sem Antes Nem Depois, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, que revisita aos locais do filme. Na sequência, uma conversa entre o realizador e a actriz Isabel Ruth, protagonista do clássico do cinema português, que também integra o júri do CineEco este ano.

"Um momento de reverência ao cinema clássico", caracteriza Daniel Oliveira, "mas que também pensa essa questão do meio ambiente a partir de uma perspectiva urbana, mais especificamente das transformações do espaço urbano de Lisboa".

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